ecce blog

Odiamos blogs. Quer dizer, odiamos o uso idiota que as pessoas fazem dos blogs. Também odiamos o uso idiota que as pessoas fazem dos fotologs. Quer dizer, odiamos fotologs. Mas adoramos rir deles! O "ecce blog" foi criado como uma forma de dar vazão a nossos impulsos criativos. Não há tema fixo. Há, sim, um tema a se evitar fixo. Não faremos disso um diário virtual. Sim, besteira é permitida. Falar mal dos outros também. Vamos ver até onde vai...

segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Crítica: "Menina de Ouro"

Escrevo após a entrega dos prêmios da Academia. "Menina de Ouro" levou os dois mais importantes, Filme e Diretor, além de melhores ator coadjuvante e atriz. Prêmios, todos eles, absolutamente merecidos.
Clint Eastwodd interpreta maravilhosamente um velho treinador de boxe, Frankie Dunn, às voltas com uma nova aluna, Maggie Fitzgerald, na interpretação perfeita de Hilary Swank, que lhe valeu o Oscar.
Vinda de família pobre e encrenqueira, a já balzaquiana aspirante a boxeadora agarra-se com todas as forças à sua convicção de que pode ser uma das melhores do mundo, desde que seja treinada. A lutadora tem muito trabalho para convencer o mestre a ser seu "chefe", já que não faz parte dos seus costumes treinar mulheres. Na verdade, esse é um reflexo da personalidade super-protetora de Dunn com seus atletas, que já lhe levou a perder seu melhor boxeador. Quando finalmente consegue seu intento, Maggie começa a transformar seu potencial em realidade, rapidamente se tranformando na principal lutadora da academia. Não há como contar muito mais da trama sem entregar boa parte de suas surpresas.
Este é um filme para homens. Clint filma para machos. O fato da história se passar numa academia de boxe, ambiente predominantemente masculino, reforça essa idéia, mas não é sua principal evidência. Não há aqui, em nenhum momento, espaço para choro. Os personagens, que já vêm, todos eles, de grandes surras da vida, apanham e engolem seco o filme todo. E o tempo não parece trazer sempre conforto. Simplesmente vive-se com as dores, sem esperança de curá-las. É um filme um tanto quanto exasperante nesse sentido, mas confesso que não senti isso assistindo-o, no cinema.
E nenhum golpe recebido por Maggie em suas lutas é mais doloroso que o desprezo da família com sua nova profissão. A forma de agradecimento encontrada por sua mãe, ao receber as chaves da casa dada de presente é perguntar porque ela não lhe deu o dinheiro e dizer que os vizinhos estão rindo de sua ocupação. "Porque você não arruma um marido?".
Frankie, por sua vez, convive com o desprezo da filha, com quem não fala há muitos anos. A cena em que ele recebe de volta uma carta que não foi entregue é tocante. Poucas vezes senti tanta pena de alguém. Frankie, no entanto, simplesmente a guarda numa caixa, junto a incontáveis outras com o mesmo destino. Em nenhum momento, é explicado o problema entre os dois. Clint prefere mostrar as consequências disso na vida de seu personagem. E elas se refletem em idas diárias à igreja, que terminam invariavelmente com sessões de perguntas cínicas ao padre sobre qualquer tema que envolva fé. O irônico é que o sacerdote sempre lhe recomenda que escreva a sua filha, reconciliando-se. Quando Frankie lhe diz que já fez isso, o padre responde com incredulidade, certo da mentira. O espectador, numa posição privilegiada, pode perceber o conflito entre a falta de fé no perdão e a falta de fé na possiblidade da inexistência dele.
O filme é todo narrado pelo personagem do grande Morgan Freeman, o lutador veterano aposentado Scrap, antes pupilo de Frankie, hoje zelador de seu ginásio. Scrap parece ser uma das fontes do trauma do treinador, uma vez que perdeu a visão de um olho numa luta. A relação entre os dois é um dos pontos fortes do filme. Tantos anos eliminam a necessidade de sutilezas nos tratos mútuos. As palavras usadas são fortes e sinceras, o que não abala uma amizade que parece ser calcada principalmente no respeito e admiração que um nutre pelo outro. Não esse respeito que nos é apregoado hoje, de ouvir calado tudo o que o outro fala e de falar sempre com cuidado, evitando certos temas e tons. É, isso, sim, o respeito dos grandes lutadores, prestes a desferir golpes uns nos outros. Não que Frankie e Scrap vivam para se digladiar. Simplesmente, não exitam em revidar, principalmente quando percebem que o amigo precisa disso. E o fato de serem Clint Eastwood e Morgan Freeman, ambos com mais de 65 anos, confere credibilidade ainda maior a tudo.
Consegui, mesmo sem ter tentado, achar um defeito nesse filme. A cena crucial, no que tange a trama, passa-se em câmera lenta. Em geral, não gosto desse recurso como forma de sublinhar a importância da cena, mas aqui, o resultado foi especialmente ruim. Posteriormente, "rodei-a" na minha cabeça em velocidade normal e cheguei à conclusão de que seria muito mais impactante assim. Aliás, se fosse acelerada, tenho a impressão de que seria ainda mais, embora tenha certeza de que seria uma extravagância que não combinaria em nada com o filme. Clint atinge seu objetivo. Naquele momento, sabemos que o destino da história está traçado. Mas isso não era necessário, pois o fato em si já é forte o suficiente.
Um personagem secundário, Danger, um adolescente meio retardado que sonha o mesmo que Maggie, embora sem o menor jeito para a coisa, me desagradou bastante durante o filme todo. Parecia servir de elemento cômico, algo totalmente desnecessário e até ridículo. Mas seu final compensa a irritação causada e justifica sua presença.
Este é um filme surpreendentemente belo. Em meio aos golpes da luta e da vida, floresce uma relação complexa. Seria perfeitamente compreensível que o público saísse aos prantos do cinema. Mas não Frankie, nem Maggie, nem Scrap. Nem mesmo Danger. Porque, no universo de Clint Eastwood, homens não choram. Nem meninas.

Filme visto no Belas Artes, Belo Horizonte, a 16 de Fevereiro de 2005

domingo, fevereiro 27, 2005

Palpites e Opiniões para o Oscar

Só vou dar palpite nas categorias em que estou mais inteirado. Assim, abstenho-me das categorias mais técnicas e da de Filme Estrangeiro, porque ainda não vi nenhum dos indicados.

Melhor Roteiro Original
Palpite: só vi "O Aviador" e "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças". Acho que vai para Brilho Eterno.
Opinião: Brilho Eterno, com certeza! Simplesmente genial!

Melhor Roteiro Adaptado
Palpite: os entendidos dizem que vai para "Sideways". Fico com eles.
Opinião: prefiro "Antes do Pôr do Sol", sinceramente. E, como essa é a única indicação...

Melhor Ator Coadjuvante
Palpite: tenho a impressão que fica com Clive Owen, por "Closer". Não vi Jamie Foxx em "Colateral".
Opinião: Morgan Freemam, por "Menina de Ouro", sem sombras de dúvida. Acho simplesmente um absurdo o Gato de Botas de "Shrek 2" não ser indicado. Até quando eles vão adiar isso? Em 2003, o Gollum de "O Retorno do Rei" já havia sido o melhor ator. E daí que eles não existem?

Melhor Atriz Coadjuvante
Palpite: não vi "Kinsey" nem "Hotel Ruanda". Acho que Cate Blanchett ganha por sua Katherine Hepburn de "O Aviador", mas Natalie Portman deve ter chances também.
Opinião: Natalie Portman. Sua Alice é o personagem mais forte num filme de quatro personagens importantes. Além de absurdamente gostosa. Achei Cate Blanchett exagerada.

Melhor Ator
Palpite: Jamie Foxx, ou Ray Charles, como se queira. Acho que é o tipo de coisa que a Academia gosta. Clint Eastwood e Leonardo Di Caprio devem ter grandes chances também.
Opinião: Leonardo Di Caprio. E acho que Johnny Depp não deveria estar aqui. Não por "Em Busca da Terra do Nunca".

Melhor Atriz
Palpite: só vi "Menina de Ouro" e "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças". Fica difícil até chutar, mas, meio às escuras, vou de Hilary Swank.
Opinião: Hilary Swank. Mas com o coração partido por causa de Kate Winslet.

Melhor Diretor
Palpite: acho que fica com Martin Scorcese. Seu "O Aviador" é quase um apelo por isso. Um apelo de qualidade, diga-se de passagem.
Opinião: muito, muito difícil. A categoria mais difícil de todas. Acho que, no final, também escolheria Scorcese, antes que ele morra sem ganhar o prêmio. E também acho que Michael Gondry tinha que ser indicado por Brilho Eterno. Boa parte do sucesso do roteiro do filme vem da sua direção magistral.

Melhor Filme
Palpite: acho que vai para "O Aviador". Mas não me surpreenderia em nada se "Menina de Ouro" ganhasse. Qualquer coisa fora disso seria uma surpresa monumental.
Opinião: "Menina de Ouro" é o filme do ano. Mas "O Aviador" causou-me uma impressão muito forte também. Mais esteticamente falando que qualquer coisa. Votaria no primeiro, bastante contrariado por ter que escolher um só. Mas o que um filme medícore como "Em Busca da Terra do Nunca" está fazendo aqui? Absolutamente inexplicável. "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças" é infinitamente mais filme.

Uma dúvida: "Os Sonhadores" foi totalmente esquecido ou não se encaixou no prazo? Se a respota for a primeira alternativa, acho lamentável...


sábado, fevereiro 26, 2005

Crítica: "O Aviador"

Tinha minhas dúvidas a respeito das virtudes de salas de cinema como as do Cinemark. A impressão era de que o aspecto grandioso pudesse amplificar impressões sobre os filmes em si, de certa forma distorcendo-as. Pode ser. Mas o fato é que ver "O Aviador" em outro tipo de lugar teria sido uma experiência diferente e bem menos impressionante.
Martin Scorcese, assim como Quentin Tarantino, por exemplo, é um dos cineastas que mais parecem apaixonados pelo que fazem. Sabiamente, ele deixa isso escorrer para seus filmes, chegando aos personagens e atingindo facilmente o público.
Neste, Leonardo Di Caprio interpreta Howard Hughes, o megamilionário americano cuja ambição, entre as décadas de 20 e 40, não parecia ter limites. Aqui, acompanha-se sua trajetória na construção do império que abrangeu uma fábrica de aviões, uma operadora de linhas aéreas e um punhado de super-produções cinematográficas.
A presença de Leonardo Di Caprio parece emprestar um tom um tanto quanto infantil ao protagonista, como se o mundo fosse seu playground e suas obras fossem meras brincadeiras, sujeitas a seus caprichos e manias, que, aliás, não são poucas. São essas, juntamente com o envolvimento com personalidades como Katharine Hepburn (Cate Blanchett, bastante exagerada, mas não por isso mal no papel) e Ava Gardner (Kate Beckinsale, maravilhosa e nula) as formas pelas quais Scorcese constrói a parte humana de seu Howard Hughes. Conforme a história avança, essas manias, transformadas em doença, passam a ocupar mais e mais a existência do magnata, chegando a dominá-lo por completo no bastante bizarro segundo ato do filme.
É exatamente nesse momento que começam a brotar os problemas mais sérios de "O Aviador". O roteiro parece picotado na última parte do filme. Personagens vão e vêm sem maiores explicações nem consequências e a recuperação de Hughes é mostrada de forma simplesmente abrupta demais ser levada a sério. Talvez as três horas de projeção tenham pesado e algumas idéias ficado de fora.
Leonardo Di Caprio mostra, mais uma vez, como em "Diário de Um Adolescente" e "Prenda-me se For Capaz", o ótimo ator que é. Pena não terem tido coragem de deformar seus dentes na queda do avião, único defeito daquela cena, uma das mais espetaculares desse início de século.
Claro apelo de Scorcese por um Oscar, "O Aviador" é, sem sombras de dúvidas, um excelente exemplar do execrado cinema de massas. A primeira sequência, da mãe com o filho, não parece ter função nenhuma na narrativa, a não ser a de voltar a aparecer no final. Assim mesmo, soa bastante como o tipo de coisa que a Academia gosta. Algo do tipo "para dar um sentido maior às coisas". A cena épica e, desde já, clássica, da queda do avião sobre Beverly Hills segue a mesma linha. Foi o momento em que a tela e, principalmente, o som do Cinemark fizeram-se valer. Lembra muito, em grandiosidade e intenção, o navio afundando em "Titanic". Verdadeira imersão numa realidade paralela por alguns instantes. Coisa para deixar qualquer fã da sala escura de pernas bambas.
Scorcese consegue construir, a partir de uma biografia, ao menos para mim, desinteressante, um filme do qual não se consegue desgrudar os olhos nem os ouvidos. Talvez por filmar um personagem em muito parecido com ele próprio, há um encantamento facilmente perceptível dos dois lados da câmera. Não sei se isso é mais forte que a vontade de ganhar o Oscar, mas o resultado final é bom demais para que se fique pensando nisso.

Filme visto no Cinemark, Belo Horizonte, a 14 de Fevereiro de 2005

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Devaneios: Deus e o Ateu.

A rua era muito deserta e há muito tempo ele vagava sozinho, porém com rumo certo. Sabia ao certo o que queria e sentia.
Lá de longe avistou um homem branco de olhos azuis, alto e barbudo. Ele caminhava em sua direção e, com certeza, mais cedo ou mais tarde iriam se encontrar.
Ao passo que o inevitável encontro se aproximava, pessoas brotavam de recantos que até aquele instante eram inexistentes, e passaram a acompanhá-lo.
Continuou a andar, só que agora com mais velocidade. Como se quisesse fugir daquelas pessoas que sussurravam algo ao seu redor.
- É ele. Olha lá hein!
Quase se esbarraram. Com a velocidade que tinha imprimido a sua caminhada quis passar direto pelo barbudo. Conseguiria se este não tivesse se colocado na sua frente. Ficaram naquela dança fora do ritmo um bom tempo. O rapaz ia para um lado, o velho entrava na frente. O rapaz tentava o outro, o velho se prostrava novamente impedindo sua passagem.
Ele parou e pensou em perguntar algumas coisas que há muito queria perguntar ao velhinho. Pensou melhor e concluiu que até ele não saberia respondê-las.
Olhou para o senhor, dançou a jinga dos bons capoeiras e aplicou uma senhora rasteira naquele homem de barba e vestido.
Continuou seu caminho sozinho, pois as pessoas haviam desaparecido misteriosamente.

sábado, fevereiro 19, 2005

Lista

Perfeccionista
derrotista
Nacionalista
stalinista
Nazista
socialista
Paulista
flamenguista
Simplista

Nem Chico Mendes sobreviveu!

O que me espanta no brasileiro é capacidade de ainda ficar perplexo com assassinatos.
Na pacata cidade em que vivo, por exemplo, em média uma pessoa por dia vai para a “terra do pé junto” assassinada e ninguém nem se surpreende.
A falta de espanto deve ser por causa dos nomes dos defuntos. Coisas como “Olho de Boi”, “Negão” ou até mesmo “Baliza”.
Quem liga para pessoas que ao longo do tempo adquiriram apelidos tão estranhos?
Gente! Eu estou falando de assassinatos.
Mas como “OsTitãs” salientaram, “a morte não causa mais espanto”. Faço uma ressalva, causa sim. Causa quando a televisão quer.
Permitam um parêntese. Estou começando a desconfiar que a as emissoras estejam por trás de vários assassinatos. Pois, depois que Serginho morreu vários outros jogadores morreram do mesmo jeito, depois que aquela garota assassinou os pais, vários outros tiveram suas vidas ceifadas pelas mãos dos seus pupilos.
Isso me leva um questionamento. Ou as emissoras estão envolvidas nessas mortes ou elas sempre acontecem e ninguém mostra, só quando dá ibope. Embora goste de conspirações tipicamente de esquerda, fico com a segunda opção.
A morte da missionária norte-americana é só mais uma. Todos sabem que dezenas de perrapados que lutam por terras estão sendo mortos corriqueiramente. Ao contrário do meu amigo Eduardo, tenho certeza de que nosso Estado também é soberano lá, claro que com seus entraves. A prova é a morte desta mulher. Nunca vi eficiência tão grande, exército, Policia Federal e o escambau. Já estão quase capturando os homens. E quanto aos perrapados? Nada. A frase é sempre a mesma.
-Estamos investigando.
Para resolver o problema da Amazônia é simples. Mandemos mais missionárias americanas para serem assassinadas com mais freqüência. Assim a máquina do Estado fará seu papel por lá.
E quando matar as missionárias norte-americanas tornar-se comum. Mandem suíças, inglesas, francesas, alemãs, espanholas...
Quando acabar o estoque. Queimem a Amazônia!
Dorothy Stang morreu.
E daí? Nem Chico Mendes sobreviveu.

Vendam a Amazônia!

Um dos maiores medos do povo brasileiro é perder a Amazônia. Não sei bem porquê. Imagino que o gigantismo da floresta nos remeta a sensações de grandeza de outra forma apenas alcançadas através do futebol. Amazônia e futebol: eis o que nos torna grandes!
Pois bem. Nosso esporte favorito há muito já não nos pertence. Nossos clubes são cada vez mais fracos e nossos craques jogam em países cada vez mais tenebrosos, como Catar e Ucrânia. É certo que o valor das transações vem diminuindo bruscamente, mas a venda de jogadores ao exterior ainda nos rende algum dinheiro. A Amazônia não.
A esquerda e grande parte da direita nacional têm grandes paranóias de invasão da floresta. Tanto que ridículas correntes de email chegam a ser tomadas como verdades científicas! Mas os senhores patriotas não deveriam se preocupar .
Os mais recentes conflitos e assassinatos no Norte do país comprovam o óbvio. Só não vê quem não quer. Aquela região já não é mais nossa há muito tempo. A soberania nacional e o poder do Estado não atuam naquela região. Assim como nas favelas do Rio e nos campos dominados pelos aproveitadores/terroristas do MST.
Há vários poderes paralelos no país e não temos como destituí-los. Ainda temos, no entanto, o direito de posse sobre a terra. Que a vendamos, portanto! Tenho certeza que o interesse privado ou internacional saberia fazer-se valer. Seria o fim das barbaridades. E ainda levaríamos uns trocados.

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

O Chapéu Panamá.

Desde a mais tenra idade já o possuía. Exatamente aos seus 21 anos de idade tinha transado com um vendedor ambulante, que jurava ter voltado de Cuba, aquele lindo Chapéu Panamá. Foi mais que um impulso, foi paixão à primeira vista, dessas que vêem e ficam.
Viveu uma vida com aquele Chapéu à sua cabeça.
Não o tirou para mais nada. Mudava seu humor quando alguém o aconselhava a retirá-lo.
- Cuide de sua vida. Desocupado!
Esbravejava a todos que lhe falavam algo sobre seu inatingível Chapéu Panamá.
Sua própria mulher sentira na pele o desprezo de uma vida e acompanhou de perto um zelo desproporcional com aquele apetrecho de cobrir cabeça. Nem filhos tivera. Não sabe se por causa do chapéu que o consumiu tanto tempo ou por algum motivo desconhecido.
Quando ia ao boteco da esquina tomar cachaça, exibia com orgulho aquilo que lhe era de mais valor e sempre lembrava aos seus companheiros de pinga a excelência de se ter um chapéu daqueles.
- É legítimo! Um legítimo Chapéu Panamá. Não conheço por essas bandas ninguém que tenha igual.
As pessoas há muito já havia se afastado, a conversa insistente e repetitiva não agradava e nem era novidade para o menino mais novo daquela vila.
Com o tempo e o desgaste da vida a lucidez se foi. O tempo passou . O branco alvo do chapéu amarelou. O tecido que o cobria, puiu de velho. Mas, nada impediu que aquele velho amigo cobridor de cabeças o acompanhasse até a viagem sem volta de braços dados à magra.

terça-feira, fevereiro 15, 2005

Crítica: "Sideways"

Dois amigos completamente diferentes fazem viagem de uma semana como despedida de solteiro de um deles. Nesse ínterim, o outro, deprimido, redescobre motivos para voltar a sorrir por causa do companheiro.
Você já viu isso antes? Certamente que sim. Você já se entendiou só com as primeiras linhas? Provavelmente, sim. Vale a pena ver esse filme? Surpreendentemente, sim!
Paul Giamatti faz Miles Davis, um homem de meia-idade, profundamente afetado por um casamento terminado há mais de um ano. Não parece achar muita graça na vida além do vinho. Jack, interpretado por Thomas Haden Church, é mais feliz em sua ignorância. Está mais preocupado em aproveitar a última semana de liberdade antes do casamento. Ambos são profissionalmente medíocres. Miles é professor de Literatura de uma turma de Oitava Série e tem as tentativas de publicação de seu livro sucessivamente rejeitadas por todas as editoras. Jack é um ator cujas aparições se resumem a comerciais e novelas. Algo como um Joey, do seriado "Friends".
A viagem, proposta por Miles, mostra-se logo de diferente significado para os dois. Se, para o primeiro, é uma oportunidade de experimentar novos vinhos e jogar golfe, para o outro é um último grito de liberdade antes da nova vida. Jack percebe que o amigo sofre ainda pelo fim do casamento e tenta fazê-lo aproveitar os dias longe da rotina para arrumar uma nova companheira.
Os conflitos entre os dois geram as cenas mais engraçadas do filme. Visões de mundo totalmente opostas e conceitos de diversão completamente diferentes tornam o diálogo praticamente impossível. Difícil entender como pode florecer a amizade em tal cenário, mas é assim que as coisas realmente são. Infelizmente, o jeito de ser de Miles parece ser fruto exclusivamente de sua depressão. Confesso que gostaria muito de ver um filme no qual tal tipo de comportamento fosse tratado como apenas diferente, sem maiores julgamentos.
A dupla de atores sai-se muito bem como os dois amigos tão diferentes. Giamatti volta a viver uma espécie de pária, bastante parecido com o Harvey Pekar de "Anti-Herói Americano", desta vez com um pouco mais de humor. Impressionante como tal tipo de personagem lhe cai bem. Sua habilidade em interpretar um andar meio cabisbaixo, com cara de quem vive com uma eterna coceira no ouvido é fantástica. Thomas Haden Church também vai muito bem como o garanhão de meia-idade sem tantas preocupações auto-impostas na cabeça. Talvez um pouco exagerado em alguns momentos, mas, afinal de contas, esta é uma comédia, e, portanto, o lugar certo para este tipo de coisa.
Um roteiro simples, na minha opinião, mas muito bem conduzido pelo excelente Alexander Payne. O filme é dividido em partes, cada uma correspondendo a um dia da viagem. Todas começam com o dia da semana escrito num fundo preto, menos a Quinta-Feira, num toque bastante inteligente (mais detalhes seriam indesejavelmente reveladores). Os diálogos são todos de alto nível, sejam eles cômicos ou não. Um, em particular, me chamou a atenção: prestes a se encontrarem com duas mulheres também apaixonadas por vinho, Jack pede ao amigo que apenas curta a noite, mesmo que elas queiram tomar Merlot.
- Não! Eu não vou tomar essa merda! - berra um desesperado Miles. Hilário.
Fotografia muito bonita, o que é bastante esperado num filme com tão forte presença do vinho. Não sei porque, mas parece que vinho não combina com feiúra.
Comédia de final possivelmente idealizado, mas não descabido. Evita uma profundidade que lhe tiraria a leveza e, possivelmente, o tornaria chato. Inteligente e muito divertido. Entretenimento com um algo a mais.

Filme visto no Belas Artes, Belo Horizonte, 09 de Fevereiro de 2005

sábado, fevereiro 12, 2005

Devaneios: Carta a Albert Einstein.

Ilhéus,12 de fevereiro de 2005


Saudações meu caro Albert!

O motivo desta humilde carta é o centenário da sua conhecida e mal usada “Teoria da Relatividade”. Estou escrevendo para lhe contar as boas novas. Afinal, depois da sua brilhante teoria, tudo que era absoluto tornou-se relativo.
Einstein, pelo meu pífio entendimento você falava sobre a relatividade do binômio tempo-espaço que até então se apresentava como absoluto diante das conclusões newtonianas. Contudo, tenho a impressão de que as pessoas levaram sério demais e relativizaram tudo.
O que eu acho meu bom homem é que a humanidade estava esperando um mote e você, sem sombras de dúvida, ofertou a ela um grande presente.
E quanto a Plank? Einstein. O que você tem a responder sobre a relativização dos referenciais? Admitamos. O homem foi ousado e entendia de caos como ninguém. Gostaria que um dia ele fosse o papa. Mas, isso são divagações bobas de um ilheense Albert e sei que pouco importa.
E a bomba atômica? Calma Albert! Sei que você se arrependeu de tê-la descoberto. Mas, desconfio que há algo benéfico. Enéas, folclórico político do cenário nacional nos cansou de falar sobre a verdade da bomba e para muitos parecia haver algo de racional nos seus argumentos. Albert. Acho que você deveria procurá-lo. Sempre é tempo de rever seus conceitos e afinal tudo é relativo.
Não fui eu que disse isso.

Um grande abraço

Desconhecido que tem a audácia de escrever-te.

Crítica: "Em Busca da Terra do Nunca"

- Você pode ver sua mãe sempre que quiser, Peter.
- Como?
- Basta acreditar.
Um clichê como esse bastaria para arranhar o brilho de qualquer filme. Mas, em "Em Busca da Terra do Nunca", ele não é o único.
Trata-se da vida de James M. Barrie, o autor de "Peter Pan", na época da criação da peça original.
A história se inicia quando Barrie, que vive um casamento praticamente de fachada, conhece uma família composta por quatro meninos e sua mãe viúva.Sua imaginação fértil conquistaos garotos, que passam a ter nele sua melhor companhia para sonhos e brincadeiras. Até mesmo Peter, tornado frio e racional ao extremo pela morte do pai, aos poucos se deixa cativar.
Essa convivência será a fonte da inspiração que resultará no clássico texto.
Um tema como esse, tão carregado de elementos fantásticos e imaginativos, certamente que merecia um filme menos enquadrado. Típica obra com contornos de Oscar, contém todos os elementos tradicionais do gênero: desde o uso de crianças para forçar o espectador às lágrimas até o contraste, nítido e forçado, entre a parte leve e feliz e a tortuosa e sombria. A cena
que marca o fim de uma e o início da outra é facilmente reconhecível, ainda que muito boa e bem feita.
Nem a presença dos sempre bem-vindos Johny Depp e Kate Winslet, até corretos em seus papéis, consegue diminuir a mediocridade do trabalho.
Não creio que este seja um caso de filme que deva não ser visto. Até porque pode e deve ser de interesse para a maioria. Mas o resultado final dá a impressão de espécie de "filme para todas as idades", com tudo que isso acarreta de pior. E sem realmente acreditar no poder da imaginação e dos sonhos.Talvez o diretor Marc Foster devesse ler "Peter Pan"mais uma vez.
Ou assistir "Peixe Grande".

Filme visto no Cinemark, Belo Horizonte, a 05 de Fevereiro de 2005

terça-feira, fevereiro 08, 2005

“Ô abram alas que eu quero passar”

E realmente se forem abertas vou até o final do circuito, seja de um sambódromo ou de uma avenida. Afinal é Carnaval e tudo está liberado. O governo e as emissoras de televisão incentivam o sexo seguro, mas o mais curioso é que esse tipo de campanha só aparece durante a festa carnavalesca. Traduzindo, Carnaval é pura sacanagem. Como se no São João, Natal, Semana Santa e Reveillon ninguém fud...
Continuemos. O som ainda toca e como dizem: - atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu. Por falar nisso, muitos já não podem ir, pois o Lança-perfume, as facadas e adjacentes já enquadram um grupo na categoria de cadáveres.
Deixa de conversa moço, entra no bloco e vamos acompanhar Chicletão com segurança. Oxente! Mas tem um cordão de homens pretos que não deixam acontecer a miscigenação.
Abram alas, eu quero passar. Mas será que deixam?
Esquece! O Carnaval é uma festa popular e tem lugar para todos mesmo que não seja aqui, tem no beco “não sei lá das quantas”.

- Que pena! O circuito está acabando.
- Vamos embora.
- Calma! Hoje é quarta feira. Esqueceu das cinzas foi?

domingo, fevereiro 06, 2005

Crítica: "Antes do Pôr-do-Sol"

Mais um remanescente da safra 2004 que só agora chega aos cinemas belo-horizontinos, essa é, até agora, a melhor surpresa do ano. Nada sabia sobre o filme, a não ser que era uma espécie de continuação de um outro que não vi (o filme em questão é "Antes do Anoitecer", de 1993).
A grande surpresa foi, para mim, o fato do filme ser um único diálogo! Além disso, é filmado praticamente em tempo real, com a câmera acompanhando cada passo do casal Jesse e Celine, interpretados por Ethan Hawke e Julie Delpy. Não chega a ser o que fez o russo Alexander Sokúrov em "Arca Russa", o fime em uma tomada só, mas é algo bem próximo.
Tudo começa com o reencontro entre os protagonistas, numa seção de entrevistas em Paris do agora escritor famoso Jesse. Celine está com seus trinta anos e trabalha numa organização de defesa da natureza, salvo engano. Algumas curtas cenas do filme anterior buscam situar o espectador, sendo os únicos instantes de fuga cronológica a que se permite o diretor Richard Linklater. A saber, os dois se conheceram em Viena, nove anos antes, no filme anterior e prometeram se reencontrar em Budapeste no ano seguinte, o que logo se toma conhecimento de nunca ter acontecido. Jesse tem poucas horas na capital francesa antes do vôo de volta aos Estados Unidos, onde tem mulher e um filho. Os dois saem então, em uma caminhada pelas ruas, passando por um café típico e por um passeio de barco pelo Rio Sena. Tudo sem pausas.
Cada local, cada rua, cada passo é registrado, de forma que se cria uma sensação de proximidade e certa intimidade. Sem exageros, por vezes, se esquece estar-se diante de uma obra de ficcção e tem-se a impressão de estar ali com o casal, numa belíssima tarde européia. Tudo devido à habilidosíssima e discreta direção.
Os diálogos são perfeitos. Jesse e Celine conversam sobre seus cotidianos, os rumos de suas vidas desde então e, como todas as pessoas reais, sobre futilidades. Esses pequenos detalhes conferem incrível realismo aos personagens. Durante o andamento da história, sente-se que o americano acabou por desenvolver uma visão de mundo mais pragmática, o que fica claro quando fala sobre seu casamento. Celine, por sua vez, parece ter adquirido um certo trauma de relacionamentos e compromissos, procurando sempre homens que não estejam sempre por perto. Esses aspectos, no entanto, não são absolutos, no que é sempre ele quem tenta uma certa reaproximação amorosa utópica. Até essas pequenas aparentes incoerências emprestam maior verdade à trama.
Uma comparação com "Closer - Perto Demais" talvez seja descabida, mas, no meu ponto de vista, pode ser feita, uma vez que ambos são calcados nos diálogos. Os deste são, com certeza, absurdamente superiores. Até porque os personagens parecem pensar antes de responder, não dando a impressão de já conhecerem previamente o que o outro está a dizer.
O final é nada convencional e, como todo o filme, simplesmente perfeito. Melhor, impossível.
Um filme que me fez sair da sala com um sorriso na cara. De contentamento e surpresa por sua qualidade. Simples na forma, mas muito complexo na construção dos personagens, "Antes do Pôr-do-Sol" é uma daquelas pequenas grandes obras, sem ambições megalomaníacas. Difícil não agradar.

Filmes visto no Belas Artes, Belo Horizonte, a 28 de Janeiro de 2005

sábado, fevereiro 05, 2005

Do imediatismo

Não deixe nada pra semana que vem, porque semana que vem pode nem chegar. Mas...
E se chegar? Como eu fico? Já fiz tudo...
Prefiro, ao deitar a cabeça no travesseiro, saber que tenho o que fazer no outro dia. E não me preocupar se ele vai chegar ou não.

Crítica: "Closer - Perto Demais"

Antes do filme em si, um breve comentário sobre as novas salas do Cinemark, no Pátio Savassi em Belo Horizonte: nunca tinha visto nada igual, na verdade, nem sabia que existia. Parecem mais estádios de futebol de tão grandes. A menor comporta 192 espectadores. A maior, incríveis 377! A tela deve medir uns 8 metros de altura por uns 12 de comprimento. O som é perfeito, alto o suficiente para quase abafar o ininterrupto som do público irrequieto e das pipocas sendo retiradas de seus também gigantescos sacos. As cadeiras são excelentes, muito embora um pouco perto demais umas das outras. Ainda não tenho certeza se toda essa grandeza é algo bom ou ruim, mas, com certeza, faz muita diferença.
Bom filme, sim, esse "Closer". Não tanto quanto o alardeado (cheguei a ler críticas classificando-o como melhor filme americano dos últimos anos), mas um tanto quanto diferente das obras hollywoodianas normais e de resultado final, em média, excelente.
A trama gira em torno de dois casais, Dan e Alice e Anna e Larry, ambos unidos por acaso, mas em circunstâncias diferentes. Os dois primeiros se vêem no meio da multidão e, distraída pela visão de Dan, Alice, recém chegada dos Estados Unidos, onde trabalhava como stripper, sofre um atropelamento sem maiores consequências. Os outros dois se conhecem através de um mal-entendido num bate-papo na internet. Esta é, por sinal, uma das melhores sequências do filme, filmada praticamente em tempo real e sem medo de se estender demais. No decorrer da história, obviamente, os casais se invertem, também em diferentes situações.
O ponto do diretor Mike Nichols, até onde este conseguiu me atingir, é a investigação do papel da franqueza e da busca da verdade nos relacionamentos, calcados muito mais no egocentrismo de cada um dos envolvidos que na lógica, ainda que distorcida, do amor. Não é de se espantar, portanto, que o principal veículo de comunicação, aqui, sejam os diálogos e estes variam bastante em qualidade.
Se, de um lado, tem-se maravilhas como o momento da separação de Alice e Dan e a conversa entre este último e Larry quase no final do filme, por outro, há passagens bastante fracas, como um dos primeiros momentos entre Dan e Alice, num ônibus. Todos os diálogos do filme, têm, por melhores que sejam, uma irritante característica em comum: o ritmo frenético em que ocorrem. Os personagens parecem máquinas de dar respostas desconcertantes uns nos outros, se assemelhando bastante com os do extinto seriado adolescente "Dawson´s Creek".
A sinceridade das palavras é dilacerante. Quando Anna comunica a Larry que o está deixando para ficar com Dan, o marido inicia uma série de perguntas sobre como, onde, quando e quão bom é o sexo entre os dois. "E aqui neste sofá? E aqui na cozinha? Ele é melhor que eu?". Na mesma linha, Dan, ao romper com Alice, diz a esta que a está deixando porque acha que vai ser mais feliz com a outra. Em tempos de busca incessante por verdade e franqueza, uma prova de que as coisas não são bem assim e que nem tudo pode ou deve ser dito.
A narrativa, seguindo uma tendência que começa a ser banalizada, não é totalmente linear. Os acontecimentos se dão em saltos e, por vezes, demora um pouco até que o espectador se situe no tempo e no espaço. Nesse caso, no entanto, o recurso é bem utilizado e achei que ocorre até que de forma bem natural.
Jude Law tem boa atuação no papel do homem fraco e indeciso. O aclamado inglês Clive Owen não está tão bem, recorrendo, na minha opinião a alguns clichês interpretativos, com destaque para um olhar bastante forçado. Julia Roberts, mais uma vez, não apresenta brilho algum, fato reforçado por seu personagem, sem dúvidas, a mais fraca dos quatro. Quem rouba a cena totalmente é Natalie Portman, deslumbrante. Quem a viu encarnando a sem sal Senadora Amidala nos episódios mais recentes de "Star Wars", mal a reconhece como a deliciosa Alice. Alternando a fragilidade com o poder das grandes mulheres, ela oferece uma grande interpretação, de encher os olhos. Lógico que nada disso chamaria tanta atenção não fosse a exuberância da atriz, ao menos não de um ponto de vista masculino.
Uma das melhores opções em cartaz atualmente, "Closer" merece ser visto, até porque tive a sensação de que comporta mais de uma leitura. Qualquer que seja, no entanto, desconfio que não será nada gloriosa.


Filme visto no Cinemark, Belo Horizonte, a 27 de Janeiro de 2005

I want you!

Já algum tempo eu sabia que o estagiário era explorado. Só não sabia que essa exploração era financiada pelo governo. Recentemente ao entrar no CIEE ( Centro de Integração Empresa Escola), órgão governamental que tem por função principal facilitar o ingresso dos estudantes no mercado de trabalho como estagiários, para assinar um contrato de estágio me deparei com um quadro que, no mínimo, foi posto ali para me acabar.
Era mais ou menos assim: “Sem encargos e direitos trabalhistas, sem décimo terceiro, sem férias, sem porra nenhuma. Pague o mínimo possível e contrate um estagiário. É melhor para sua empresa( se achar conveniente, expulse-o e logo em seguida contrate outro.)” .
Estava ali no meu próprio Vietnã, armas apontadas à cabeça e o Tio Sam com seu olhar sedutor me falando: “I want you”. Bando de filhos da puta, na teoria somos estudantes em estágio avançado de aprendizagem, na prática, trabalhadores comuns, pois após um mês se apreende todo o serviço, seja ela imbecil ou não.
E o pior! A maioria dos chefes já foram estagiários. Mas Paulo freire explica, a lógica do oprimido é ser opressor. Afinal o estágio dignifica o homem. Ou será o trabalho?

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Los Hermanos

Na época em que regravar canções já consagradas se apresenta como viés de escape e a coisa nova parece ser a mesma dos últimos trinta anos, um grupo musical prima pela sua genialidade em construir canções.
Aliás, a própria imagem desenhada por seus integrantes, por si só, é mais um atrativo. O estilo looser dos “Los Hermanos” provoca a sensação do normal, não no sentido do que “todo mundo faz”, mas sim da simplicidade de ser aquilo que se é. A aversão à idiotice da mídia também é marca registrada desse grupo tão peculiar nos tempos hodiernos.
Seu trabalho musical é muito mais que um presente. A sincronia quase que perfeita entre a letra e a melodia aflora nos ouvintes a exata sensação do que se quer passar. O tom do samba e a efervescência do rock dão ao “Los hermanos” um estilo musical indeterminado, porém fanstático.
Músicas com “Santa Chuva”, “Sentimental”, “Cadê teu suin?” “Conversa de botas batidas” são verdadeiras obras-primas do atual panorama musical brasileiro.
Isso faz com que os que gostam da boa música esperem inquietos pelo seu próximo trabalho.

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Crítica: "Primavera, Verão, Outono, Inverno... E Primavera"

Este era um dos filmes mais esperados por mim. No ano passado. O fato de só chegar agora às salas belo-horizontinas não diminuiu em nada a empolgação. O filme é coreano e o cinema asiático costuma ser bastante interessante, até porque bem diferente do americano e da maioria dos europeus. De um modo geral, há planos longos, silenciosos, com paisagens maravilhosas como moldura. Quase sempre esforçam- se em passar uma certa lição de vida, como quase tudo em sua cultura.
Esse filme de nome quilométrico não foge nem um pouco à regra. Como o próprio título sugere, a moral da história é o caráter cíclico da vida, tema tão caro aos povos do lado de lá do Índico. O lugar é um vale isolado da civilização. Os personagens, um monge e seu aprendiz, juntos desde a mais tenra idade do pupilo. A história é dividida em quatro partes, cada uma representando uma estação do ano e uma fase da vida do rapaz.
Pelo menos uma cena é bastante marcante. O monge mais novo comete uma série de maldades infantis contra alguns pequenos animais, secretamente observado pelo ancião. Após revelar-lhe que havia assistido a tudo, o velho aplica-lhe um castigo exemplar, que acho não convir revelar.
Na atual fase de adoração pela cultura oriental pela qual passa nossa civilização, o filme deve interessar bastante. Não que não faça por merecer. Algumas sequências são bastante interessantes mesmo, como a supra-citada. Mas tive a impressão de que o filme nada acrescenta como experiência cinematográfica a alguém que já tenha visto algumas produções orientais recentes não ocidentalizadas. Mas cumpre bem seu papel como forma de diversão e, de certa forma e para alguns, de objeto de reflexão. Na verdade, acho excelente e imprescindível que nem toda obra de arte tente ser inovadora e vanguardista. Nesse sentido, pode-se julgar "Primavera, Verão, Outono, Inverno... E Primavera" como bastante valoroso. Mas que não vai além disso. Alguém precisa de mais?


Filme visto no Belas Artes, Belo Horizonte, a 25 de Janeiro de 2005