Crítica: "Antes do Pôr-do-Sol"
Mais um remanescente da safra 2004 que só agora chega aos cinemas belo-horizontinos, essa é, até agora, a melhor surpresa do ano. Nada sabia sobre o filme, a não ser que era uma espécie de continuação de um outro que não vi (o filme em questão é "Antes do Anoitecer", de 1993).
A grande surpresa foi, para mim, o fato do filme ser um único diálogo! Além disso, é filmado praticamente em tempo real, com a câmera acompanhando cada passo do casal Jesse e Celine, interpretados por Ethan Hawke e Julie Delpy. Não chega a ser o que fez o russo Alexander Sokúrov em "Arca Russa", o fime em uma tomada só, mas é algo bem próximo.
Tudo começa com o reencontro entre os protagonistas, numa seção de entrevistas em Paris do agora escritor famoso Jesse. Celine está com seus trinta anos e trabalha numa organização de defesa da natureza, salvo engano. Algumas curtas cenas do filme anterior buscam situar o espectador, sendo os únicos instantes de fuga cronológica a que se permite o diretor Richard Linklater. A saber, os dois se conheceram em Viena, nove anos antes, no filme anterior e prometeram se reencontrar em Budapeste no ano seguinte, o que logo se toma conhecimento de nunca ter acontecido. Jesse tem poucas horas na capital francesa antes do vôo de volta aos Estados Unidos, onde tem mulher e um filho. Os dois saem então, em uma caminhada pelas ruas, passando por um café típico e por um passeio de barco pelo Rio Sena. Tudo sem pausas.
Cada local, cada rua, cada passo é registrado, de forma que se cria uma sensação de proximidade e certa intimidade. Sem exageros, por vezes, se esquece estar-se diante de uma obra de ficcção e tem-se a impressão de estar ali com o casal, numa belíssima tarde européia. Tudo devido à habilidosíssima e discreta direção.
Os diálogos são perfeitos. Jesse e Celine conversam sobre seus cotidianos, os rumos de suas vidas desde então e, como todas as pessoas reais, sobre futilidades. Esses pequenos detalhes conferem incrível realismo aos personagens. Durante o andamento da história, sente-se que o americano acabou por desenvolver uma visão de mundo mais pragmática, o que fica claro quando fala sobre seu casamento. Celine, por sua vez, parece ter adquirido um certo trauma de relacionamentos e compromissos, procurando sempre homens que não estejam sempre por perto. Esses aspectos, no entanto, não são absolutos, no que é sempre ele quem tenta uma certa reaproximação amorosa utópica. Até essas pequenas aparentes incoerências emprestam maior verdade à trama.
Uma comparação com "Closer - Perto Demais" talvez seja descabida, mas, no meu ponto de vista, pode ser feita, uma vez que ambos são calcados nos diálogos. Os deste são, com certeza, absurdamente superiores. Até porque os personagens parecem pensar antes de responder, não dando a impressão de já conhecerem previamente o que o outro está a dizer.
O final é nada convencional e, como todo o filme, simplesmente perfeito. Melhor, impossível.
Um filme que me fez sair da sala com um sorriso na cara. De contentamento e surpresa por sua qualidade. Simples na forma, mas muito complexo na construção dos personagens, "Antes do Pôr-do-Sol" é uma daquelas pequenas grandes obras, sem ambições megalomaníacas. Difícil não agradar.
A grande surpresa foi, para mim, o fato do filme ser um único diálogo! Além disso, é filmado praticamente em tempo real, com a câmera acompanhando cada passo do casal Jesse e Celine, interpretados por Ethan Hawke e Julie Delpy. Não chega a ser o que fez o russo Alexander Sokúrov em "Arca Russa", o fime em uma tomada só, mas é algo bem próximo.
Tudo começa com o reencontro entre os protagonistas, numa seção de entrevistas em Paris do agora escritor famoso Jesse. Celine está com seus trinta anos e trabalha numa organização de defesa da natureza, salvo engano. Algumas curtas cenas do filme anterior buscam situar o espectador, sendo os únicos instantes de fuga cronológica a que se permite o diretor Richard Linklater. A saber, os dois se conheceram em Viena, nove anos antes, no filme anterior e prometeram se reencontrar em Budapeste no ano seguinte, o que logo se toma conhecimento de nunca ter acontecido. Jesse tem poucas horas na capital francesa antes do vôo de volta aos Estados Unidos, onde tem mulher e um filho. Os dois saem então, em uma caminhada pelas ruas, passando por um café típico e por um passeio de barco pelo Rio Sena. Tudo sem pausas.
Cada local, cada rua, cada passo é registrado, de forma que se cria uma sensação de proximidade e certa intimidade. Sem exageros, por vezes, se esquece estar-se diante de uma obra de ficcção e tem-se a impressão de estar ali com o casal, numa belíssima tarde européia. Tudo devido à habilidosíssima e discreta direção.
Os diálogos são perfeitos. Jesse e Celine conversam sobre seus cotidianos, os rumos de suas vidas desde então e, como todas as pessoas reais, sobre futilidades. Esses pequenos detalhes conferem incrível realismo aos personagens. Durante o andamento da história, sente-se que o americano acabou por desenvolver uma visão de mundo mais pragmática, o que fica claro quando fala sobre seu casamento. Celine, por sua vez, parece ter adquirido um certo trauma de relacionamentos e compromissos, procurando sempre homens que não estejam sempre por perto. Esses aspectos, no entanto, não são absolutos, no que é sempre ele quem tenta uma certa reaproximação amorosa utópica. Até essas pequenas aparentes incoerências emprestam maior verdade à trama.
Uma comparação com "Closer - Perto Demais" talvez seja descabida, mas, no meu ponto de vista, pode ser feita, uma vez que ambos são calcados nos diálogos. Os deste são, com certeza, absurdamente superiores. Até porque os personagens parecem pensar antes de responder, não dando a impressão de já conhecerem previamente o que o outro está a dizer.
O final é nada convencional e, como todo o filme, simplesmente perfeito. Melhor, impossível.
Um filme que me fez sair da sala com um sorriso na cara. De contentamento e surpresa por sua qualidade. Simples na forma, mas muito complexo na construção dos personagens, "Antes do Pôr-do-Sol" é uma daquelas pequenas grandes obras, sem ambições megalomaníacas. Difícil não agradar.
Filmes visto no Belas Artes, Belo Horizonte, a 28 de Janeiro de 2005
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