ecce blog

Odiamos blogs. Quer dizer, odiamos o uso idiota que as pessoas fazem dos blogs. Também odiamos o uso idiota que as pessoas fazem dos fotologs. Quer dizer, odiamos fotologs. Mas adoramos rir deles! O "ecce blog" foi criado como uma forma de dar vazão a nossos impulsos criativos. Não há tema fixo. Há, sim, um tema a se evitar fixo. Não faremos disso um diário virtual. Sim, besteira é permitida. Falar mal dos outros também. Vamos ver até onde vai...

sábado, janeiro 22, 2005

Crítica: "Os Sonhadores"

"Não existe amor. Existem provas de amor." Essa declaração de Isabelle, uma das protagonistas, dá o tom da mais nova obra do diretor italiano Bernardo Bertolucci. Contraditório, impulsivo e belo.
A trama gira em torno do encontro entre três jovens, dois gêmeos franceses nascidos siameses, mas de sexos distintos, Isabelle e Theo e um americano, Matthew, na Paris às vésperas da Revolução de 68. O que os une é a paixão pelo cinema. A relação entre os dois irmãos é um tanto quanto doentia para os padrões normais e Matthew é rapidamente sugado para essa realidade, sem, no entanto, ter consciência do absurdo da situação. Isabelle representa o caos, a impulsividade, a mola motora. Theo, a rebeldia; não sem causa, mas sem fundamento. O estrangeiro simboliza a ingenuidade e a razão. Ele, o amor. Eles, a paixão.
O tema do filme é, definitivamente, as contradições e as fragilidades de argumentos das revoluções. Mesmo sem praticamente sair de casa e fazendo muito pouco além de beber os vinhos caros do pai e ver filmes com pouca relação com o momento histórico que vive, Theo se sente um revolucionário. E quando Matthew joga-lhe isso na cara, sua reação é de perplexidade e negação. Não que isso não seja possível. O que o filme mostra é que as Revoluções geralmente não são feitas por quem supostamente precisaria delas. O americano também é responsável por uma forte crítica à Revolução Maoísta. Numa antevisão até óbvia da crueldade do movimento, ele comenta com o amigo que o que lhe assusta nos seguidores do livro vermelho é justamente um dos seus principais baluartes. Não é uma revolução de livros, mas de um livro só. Fortíssimo golpe no desastre do Comunismo.
O relacionamento dos três permanece estagnado conforme o filme (e a vida) evoluem, o que não impede que saiam às ruas na noite em que a Revolução explode, tomados totalmente de surpresa, em mais uma demonstração de contradição. O final é uma vitória do irracional e do sonho impulsivo sobre a coerência chata.
A fotografia é maravilhosa, como em "O Último Imperador", único outro filme de Bertolucci que vi até hoje. A sequência da conversa entre os três e os pais é muito bonita, com a mesa cheia de cores e, mesmo assim, com um tom escuro. "Moça com Brinco de Pérola" chegou a me passar pela cabeça, mas acho que a relação não existe. As atuações são soberbas, principalmente dos dois franceses. O ar dominador de Isabelle chega a ser assutador, em algumas cenas.
Enfim, filmaço. Tem cenas de nudez e sexo quase explícito, o que pode suscitar em alguns a sensação de filme feito para chocar. Não é o caso. São todas muito bem colocadas e bonitas. Grande obra de um grande diretor.

Filme visto no Belas Artes, Belo Horizonte, a 20 de Janeiro de 2005

2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Vi o filme recentemente e gostei muito. Excelente crítica a sua, parabéns.

7:18 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Adorei a sua critica, filmes muito bem conseguido, com uma forte mensagem veinculada. Louis garrel soberbo, uma forte promessa para o cinema contemporanio

5:02 PM  

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