ecce blog

Odiamos blogs. Quer dizer, odiamos o uso idiota que as pessoas fazem dos blogs. Também odiamos o uso idiota que as pessoas fazem dos fotologs. Quer dizer, odiamos fotologs. Mas adoramos rir deles! O "ecce blog" foi criado como uma forma de dar vazão a nossos impulsos criativos. Não há tema fixo. Há, sim, um tema a se evitar fixo. Não faremos disso um diário virtual. Sim, besteira é permitida. Falar mal dos outros também. Vamos ver até onde vai...

quinta-feira, junho 30, 2005

Mas elas precisavam da benção?

Pensei ser até brincadeira do Evaristo, mas era verdade. Estava, eu, em frente ao aparelho televisor, assistindo o fabuloso Jornal Hoje, quando o apresentador anunciou, como se fosse a coisa mais normal do mundo, que o Santo Padre acabara de abençoar 45 carros da marca Ferrari.
Diante do ridículo, confesso que não pude conter o riso. Entretanto, estávamos falando do chefe da maior Instituição do mundo, os detentores da verdade, por isso minha avó cutucou-me e repudiou meu instinto.
Eu achava que existiam problemas maiores a serem solucionados antes de dar à benção a carros, que cada um, custa meio milhão de dólares. Se a benção era voltada a prevenir acidentes na estrada, com certeza, esse não é um problema na Europa, sem dúvidas, o lugar certo para tal voto sagrado seria o Brasil. Em relação a segurança, a Ferrari não eqüivale a uma pequena fortuna à toa, é considerado um dos carros mais seguros do mundo.
Ou o Papa deve ter aderido ao "Movimento Geral da Idiotice" anunciado por Chico Buarque, ou ele é um pândego. E por falar no poeta, arrisquei-me a modificar uma de suas canções, em homenagem ao velho cardeal.
"Estava à toa na vida, em frente ao televisor,
E vi o papa abençoar, 45 ferraris com ardor..."

quarta-feira, junho 22, 2005

Alemães mal-comportados e seus exemplos perigosos

Há poucas informações das quais discordo tanto quanto a de que brasileiro tinha que ser mais nacionalista. Provavelmente, se isto acontecesse, já teríamos entrado em guerra com todos os países vizinhos e alguns ultra-marinos. Toco no assunto neste momento porque, há pouco mais de meia hora, o chefe maior dos xenófobos tupiniquins, o sábio do futebol Galvão Bueno proferiu mais uma das suas.
Algum idiota invadiu o campo no jogo da seleção brasileira contra a japonesa (um dia eu vou tentar, parece ser tão fácil...) e o velho narrador global (pura e restritamente no sentido televisivo da palavra) apressou-se em ponderar que o delinquente não devia ser brasileiro.
Provavelmente Galvão baseou-se na realidade da sua terra de origem para chegar a tal conclusão. Afinal de contas, este não é um país onde tal tipo de vandalismo ocorre. Inclusive, sentimo-nos chocados ao presenciar cenas tão grotescas e incomuns por estas bandas. Como se bem sabe, o brasileiro é um povo que prima por seu comportamento, especialmente em público e ainda mais especificamente em eventos que envolvam sua maior paixão.
Sugiro que se adote urgentemente o modelo das transmissões ao vivo da televisão chinesa. Lá, as imagens chegam aos espectadores com alguns minutos de atraso para que se possa realizar qualquer tipo de censura que se julgue necessário. Procedendo desta forma, cenas como as que acabaram de ocorrer jamais chegariam a nossos olhos puros, não nos dando o mau exemplo.
Afinal de contas, vai que a moda pega aqui...

quinta-feira, junho 16, 2005

Homenagem a Rimbaud

Se o amor for
O que eles cantam naquelas músicas sertanejas
Eu prefiro
Passar uma temporada no Inferno

Lé Brésil n’est pas um pays sérieux

" O Brasil não é um país sério". O suposto autor da certeira frase é Charles de Gaulle, presidente francês da 50ª República Francesa (1958-1969) e inspirador de uma nova constituição para a França, entretanto, como já foi esclarecido, o verdadeiro mentor da assertiva foi o embaixador brasileiro que atuava na França àquela época, Carlos Alves de Souza.
O contexto da frase era referente ao incidente provocado por pescadores franceses que, em território brasileiro, praticavam ilegalmente a pesca da lagosta. Isso levou, inclusive os dois países a se mobilizarem militarmente, este episódio ficou conhecido como a " Guerra da Lagosta".
A verdade é que no Brasil, este episódio pouco importa, a maioria esmagadora, nem sequer o imaginava. O que realmente ficou foi a polêmica frase do embaixador, o qual, creio, ser um homem sábio.
Diante de mais um escândalo de corrupção no cenário político, ela, a frase, novamente, cai como uma luva.
Há pouco tempo acompanhávamos as denúncias de extorsão feitas pelo Governador Ivo Cassol. O mais curioso deste episódio é a convicção com que a Ellen Ruth ameaça o Governador: " Não pode esse valor? Nós não podemos sair daqui dizendo pra eles que simplesmente isso não pode e que eles precisam repensar. Nós não vamos chegar em canto nenhum. A minha sugestão é: não pode? Reúne com o teu pessoal, com o teu pessoal, vê o que pode (...)Nós somos seres humanos."
Não obstante a isso, novamente somos presenteados com outro esquema de corrução, agora dentro da maior estatal do país, os Correios. E, frente ao enorme esforço do Governo para não ser instalada uma CPI, eis que surge uma nova denúncia, o "mensalão". O deputado do PTB, Roberto Jeffersson, já envolvido no caso dos Correios, sem muito a fazer, resolve entregar um esquema de compra de aliados, um certo pagamento de mesada a base aliada, paga pelo PT, pior, em seu recente depoimento à Comissão de Ética, Jefferson só poupa o presidente Luis Inácio, mas envolve a alta cúpula do governo, acusando José Dirceu de ter conhecimento do esquema.
Jefferson é um político execrável, mas que tem muito a dizer. Pouco importa seu caráter, importa sim, que ele está disposto a falar e entregar até suas falcatruas.
A população brasileira assiste a tudo apaticamente, como sempre. Não é da cultura do Brasileiro agir, mas sim assistir tudo e sermos meros coadjuvantes no nosso próprio país
São três casos recentes de corrupção envolvendo o nosso quadro político-administrativo. Às portas de uma nova eleição, o Brasil demonstra porque ocupa o quinto lugar na lista dos países mais corruptos.
Por mais que os defensores árduos e ufanistas se tremam todos ao ouvir, ninguém no mundo descreveu nossa grandiosa nação tão bem, seja Charles de Gaulle ou Carlos Alves de Souza: "Lé Brésil n’est pas um pays sérieux.", "O Brasil não é um país sério."
É uma grande piada.

terça-feira, junho 07, 2005

O Silva.

Silva, 62 anos de idade e trinta de repartição pública. Já faziam dois anos que poderia se aposentar. Preferiu continuar, tinha uma última carta na manga.
Dedicara sua vida à burocracia. Realizava um trabalho medíocre, mas o que ali na repartição não era?
Ao dormir, sempre martelava consigo, que tinha trinta anos de serviço público e muitos nem sabiam seu nome, era um verdadeiro fantasma. Não sabia contar piada como o Souza, não traía a mulher como o Pereira, não era líder de greve e nem emprestava dinheiro como o Seara.
Tinha uma última carta na manga, iria se aposentar em grande estilo. Recrutou dois funcionários para seu plano, pagaria metade do seu salário para eles, por isso cortou substancialmente os gastos de casa, entretanto valeria à pena.
Na segunda-feira começaram. Espalhavam aos quatro cantos da repartição que o Silva tinha um segredo que iria mudar aquilo ali para sempre e que à qualquer momento poderia revelar. Davam ao boato o tom de dramaticidade:
- Rapaz, é coisa quente! Só posso lhe adiantar que homem não tá para brincadeira não.
Silva, agora, era respeitado. Ao chegar, todos lhe davam bom dia, até o chefe, o Santos, já cogitava lhe oferecer um cargo de confiança.
Foi assim até completar 65 anos de idade, fazia terrorismo diariamente. Todos imaginavam que o famoso segredo era sobre si, ficavam encabulados com os olhares de Silva.
No dia de sua despedida, até festa surpresa fizeram, foi eleito o mais querido dos últimos tempos. Foi embora de alma lavada. Enquanto isso a repartição cantava enquanto despediam-se do querido Silva:
- O Silva é um bom companheiro!
- O Silva é um bom companheiroooooo!
- Ninguém pode negar!
- Ninguém pode negaaaaaaar!

domingo, junho 05, 2005

O nazismo tupi

Era uma vez o Hitler brasileiro.
Acreditava que seu povo era superior em todos os aspectos. Seu futebol não era um esporte, mas uma arte. Achava suas mulheres mais bonitas que todas as outras. Considerava os americanos aculturados, os portugueses burros, os japoneses retardados e os ingleses metódicos demais. Simpatizava, no entanto, com os argentinos, "nossos irmãos".
Lamentava profundamente o fato de seus compatriotas não assistirem apenas filmes brasileiros e não ouvirem exclusivamente MPB. Mas creditava isso à dominação do império ianque. O povo, pobre coitado, não tinha culpa.
Mas isso haveria de ter fim, quando o Império Tupi se erguesse de seu sono de 500 anos e passasse a comandar o Terceiro Mundo rumo à vitória final sobre as elites dominantes. E então, seu país passaria, finalmente, a ter filósofos, cientistas, cineastas e músicos relevantes para a humanidade.

quarta-feira, junho 01, 2005

O mito do último

- Me dá um biscoito?
- É o último
- Ah, tá...

O mais surpreendente na cena acima não é a desculpa absolutamente sem sentido para a não-partilha da guloseima. É a resignação do pedinte. Esta é uma verdade social, é um consenso absolutamente unânime: não importa que já tenha comido todos os outros 35 do pacote, sem o último nada vale. É como se a fome não se aplacasse e a barriga voltasse a roncar se não comermos o bendito.
O atacante que completa a jogada genial do meia, a glória do professor de cursinho, o homem que assina embaixo. Todas estas são várias instâncias do mesmo fato, tido entre nós como axioma de justiça.
Se os últimos serão, um dia, os primeiros, eu não sei. Mas que são, muitas vezes, os mais importantes, disto estou certo.