Sofismas, retóricas e discursos

O discurso bem arquitetado se faz uma arma poderosa diante de situações difíceis. Foucault nos fala do discurso como Instituição de uma sociedade, e assim atribui a devida importância para aquilo que, a priori, seria mero conjunto de palavras.
Em meio a escândalos de corrupção que a cada dia envergonham ainda mais nossa condição de brasileiros, o PT, partido do presidente brasileiro barbudo, se afunda na sua própria areia movediça. Da guerrilha ao "crime do colarinho branco", Zé Dirceu e José Genoíno, fizeram uma trilha infeliz e demonstraram o quão é endêmico o processo corruptivo deste país.
Tudo isso só prova a apoliticidade do brasileiros. Com todo esse carnaval acontecendo, a parcela dos que não votaram em Lula, se preocupa em indagar e acusar aos que votaram no Barbudo. O jogo retórico consiste em igualar tudo para um único resultado, esquecendo das demais variáveis. Esquecem como é importante analisar algo imparcialmente, ou pelo menos, ao máximo e confundem as coisas, deixando todos como idiotas e ingênuos crentes no PT.
Muitos salientam o fato das pessoas que votaram no PT, terem votado por simpatia e admiração pelo "companheiro" e não levaram em conta o caráter de eficiência administrativa dos governantes. Entretanto, por exemplo, esquecem que o Governo Lula apresenta índices superiores ao anterior, aliás, em termos de mudança de atitude política, pouco mudamos.
Então, eis que surge a indagação: Quem queremos punir? O governo Lula e seu bom desempenho na administração? A corrupção e os corruptos que fazem parte do Governo Lula? Ou todos aqueles que votaram no PT, porque votaram no PT? Sendo esta última, por sadismo, nutrido pela ignorância dos filhos deste solo.

Haroldinho

Haroldinho tinha só 12 anos, mas há muito tempo indignava-se com a situação do povo palestino. Resolveu. A festa do São João seria ideal, vinha juntado sua mesada há meses.
A família toda reuniu-se em sua casa e Haroldinho não poderia desperdiçar aquela chance única.
Dirigiu ao meio do salão, chamou a atenção dos demais e abriu sua camisa. Foi um espanto! Haroldinho tinha seu corpo envolto de bombas de São João, grandes, pequenas, longas e curtas, todas amarradas por um pavio.
Não deu tempo nem para os pais impedirem o entusiasmado Haroldinho, que antes de acender o pavio esbravejou:
- Pela liberdade do povo soberano da Palestina, vida curta à Ariel Sharon!
Haroldinho explodiu-se no seu protesto solitário. Não morreu, só obteve queimaduras por todo o corpo e perdeu dois dedos da mão direita.

It´s the end of the world as we know it and I feel fine

O PT acabou. Está morto. Junto com o partido, as esperanças de milhares de desavisados. Bastou a exposição aos holofotes à qual um Presidente da República está necessariamente submetido para que se mostrasse a verdadeira face da estrela vermelha.
O PT tenta evitar CPIs. O PT é extremamente corporativista. Nada daquela história de meritocracia. O PT tem casos endêmicos de incompetência. E o PT tem muitos, muitos corruptos. Assim como todos os outros partidos. E este é o ponto.
O PT é um partido comum, como todos os outros. Melhor e mais importante do que a grande maioria de partidos de aluguel. Mas ainda assim comum. Muito longe do grupo de paladinos da moralidade que seus principais líderes, Lula (desde sempre) e Duda Mendonça (mais recentemente) tentam vender.
Estes são os detentores da fé de milhões de brasileiros. São estas as pessoas que iam provocar uma revolução de qualidade e ética na administração nacional. E o instrumento para convencer as massas disso não foram bons planos ou projetos elaborados e propostos à sociedade.
A maioria dos que votaram no PT, votou num fantasma, num espírito. Depositou suas esperanças numa aura espiritual superior, que iria melhorar o país simplesmente por não serem "os mesmos que governaram desde sempre", por serem diferentes "de tudo que está aí".
Se o país resistir institucionalmente a essa onda de destruição moral, acredito que pode ocorrer um amadurecimento político da sociedade. Se, após o fim do sonho da super-esquerda, o "pensamento" das correntes de esquerda não se voltar para o extremismo (risco que eu acho altíssimo) e o país resistir umas duas eleições sem recorrer a "soluções Hugo Chaves", poderemos vislumbrar um novo tempo para a política brasileira. Uma era em que a sociedade votará em idéias práticas de qualidade e passará a procurar não messias, mas bons governantes. Finalmente.

As dez mais

1- "Bater o ganha."
2- "Bateu Lambeu."

Essa expressão surge em meados da década de 90. Ela é um chamamento para uma competição de bolas de gude. É o oposto do "brinca".

3- "Escapuliu, tá contratado."

Ainda dentro do plano da competição das "bolinhas de vidro", essa frase demonstra quão importante é o direito. Exsurge quando o artifício esférico foge da mão de um dos competidores, que logo tenta retomar a sua jogada, quando os adversários o alertam prontamente: "Escapuliu, tá contratado."

4- "Mão Chega."
5- "Descaída."

As duas têm o mesmo significado. Ela é empregada no momento da ardilosa tentativa de um dos participantes do jogo para burlar as regras, aproximando sua mão ou deixando o corpo cair, no intuito de encurtamento da distância de uma gude à outra.

6- "Abalou."

Por fim, mas não esgotando o vasto jargão do mundo da "Gude", temos a folclórica expressão: "Abalou." Ela brota num momento de dúvida, quando alguns imaginam ter havido o grande momento do jogo de gude, o teco, outros dizem que não, mas sim que a esfera abalou o terreno próximo a outra, o que explica seu súbito movimento.

7- "Mandei e aparei"

As únicas pessoas que podem usar tal frase, devem ser exímias empinadoras de pipas. Pois além de cortar a pipa do adversário, a recolhe no próprio ar, não deixando qualquer dúvida sobre sua agilidade com o brinquedo.

8- " A negra."
9- " Dentro."

10- " Dois altos."

Todas são clássicas, são antológicas. Uma outra semelhança entre as três , é a sua finalidade técnica e prática. A primeira é invocada para por fim a um processo duvidoso. A segunda é chamada para dar início à brincadeira, sendo também correlatas dela: o "zerinho" e o "primeiro". Já a terceira, representa um pedido de misericórdia, que incrivelmente é aceito.

O botão da probreza e outras histórias

Esse fim de semana está acontecendo o Live 8, festival de música organizado por um certo Bob Geldof. São shows de bandas contemporâneas de sucesso acontecendo em 7 países. A entrada em todos os shows é gratuita. A idéia é chamar a atenção dos chefes de Estado do G8 que se reunirão na Escócia para que considerem um projeto de erradicação da miséria em escala planetária. Pensando no efeito que a iniciativa poderia causar nos tais governantes, criei alguns desfechos hipotéticos para a história:

" Final I:
(na sala de reuniões em Gleneagles, Escócia)
- Milhões de pessoas querem o fim da pobreza! Como não tínhamos percebido isso antes?
- É verdade... Bom, mas isso é fácil. Com meu laptop tenho acesso on-line ao Sistema de Controle da Miséria Mundial. Resolvo o problema num instante.
Ao clique de um botão, os acampamentos militares em Chiapas tornam-se reservas ecológicas, as favelas em Recife viram condomínios fechados de classe média e as ruas sujas do Cairo dão lugar a vias asfaltadas duplicadas.
- Se tivessem avisado antes..."

" Final II:
(ainda na sala)
- E o tal do Live 8?
- Interessante. Você viu o show do Coldplay?
- Não. Prefiro REM. Mas voltemos ao que interessa. E as taxas de juros nos EUA?"

" Final III:
(em Moscou)
- Ah, é o fim da pobreza que vocês querem, não é? Então toma!
Um botão pressionado lança aos ares três ogivas de longo alcance contendo bombas nucleares. Em questão de minutos três crateras surgem onde antes ficavam Lagos, Lima e Jakarta."

" Final IV:
(em algum lugar do Palácio do Planalto)
- Que bando de alienados...
- Se ao menos a música fosse brasileira...
- Boa idéia! Onde está o telefone do Zezé de Camargo?"

" Final V:
(em Belo Horizonte)
Placebo e Bjork? De graça? Sem pensar duas vezes. Pelo fim da pobreza, pela reforma agrária ou pela independência de Taiwan. Tanto faz."