ecce blog

Odiamos blogs. Quer dizer, odiamos o uso idiota que as pessoas fazem dos blogs. Também odiamos o uso idiota que as pessoas fazem dos fotologs. Quer dizer, odiamos fotologs. Mas adoramos rir deles! O "ecce blog" foi criado como uma forma de dar vazão a nossos impulsos criativos. Não há tema fixo. Há, sim, um tema a se evitar fixo. Não faremos disso um diário virtual. Sim, besteira é permitida. Falar mal dos outros também. Vamos ver até onde vai...

segunda-feira, março 27, 2006

Enquanto isso, na Sala da Justiça

Fala a deputada Ângela Guadagnin, aquela do sambinha, em seus cinco minutos de fama:
- Não tenho dúvida que essa repercussão toda é puro preconceito: sou mulher, de idade, e única do PT no Conselho.
O desabafo ficou barato! A excelentíssima deputada nem chega a citar o fato de estar alguns quilos acima do socialmente aceito!
Não posso deixar de expressar minha solidariadade com a senhora injustiçada. Estou certo de que, depois de uma cirurgia de mudança de sexo, algumas aplicações de Botox para as rugas e uma transferência para o PSDB, a simpática concidadã estaria apta a comemorar as próximas absolvições de colegas corruptos com muito mais privacidade.
Chega de preconceitos! Não seremos uma nação digna enquanto todos não tiverem direitos iguais, seja ao deboche da ética, seja à passarela do samba.

O homem que não esqueceu o celular no cinema

O homem que não esqueceu o celular no cinema
Não era mais atencioso que os outros.
Acontece que ele não tinha telefone
Porque não queria ser encontrado.
Mas tanta gente assim queria falar com ele?
Isso eu não sei dizer.

O homem que nunca bateu o carro
Não era mais habilidoso que os outros.
Ele simplesmente só andava de ônibus
Porque não queria ter que dar carona.
Mas tantos assim iriam lhe pedir?
Isso é mais do que eu sei.

A menina que tentou Medicina sem estudar
Não era mais inteligente que as outras.
Ela preferia passar as tardes na rua
Porque achava que o que contava era o emocional.
E ela teria passado se tivesse lido os livros?
Ah, isso eu não posso prever.

O rapaz que não deu bom dia no café
Não era menos educado que os outros.
É que ele não queria ser notado
Porque não queria conversar com ninguém.
Mas os colegas lhe teriam dado atenção?
Isso eu não posso contar.

Ao homem que saía sozinho
Não faltavam amigos.
Ele simplesmente se achava melhor só que acompanhado.
E ele era feliz assim?
Bom, isso já não tem nada a ver...

quinta-feira, março 23, 2006

O elo

Em meio a uma formatura de estudantes de direito, as famílias e os amigos, todos estavam lá para o cerimonial no intuito de ver seus queridos adquirirem o título de bacharel em tão respeitado curso universitário.
Entre eles, advogados, juízes, promotores, médicos, economistas, vagabundos, crianças, estudantes, velhas, jovens, aposentados.
Bastou que num dado momento de espera pelo cerimonial, uma pessoa, munida de uma corneta, a assoprasse, pronto. Foi o estopim, todos começaram a gritar, uivar, a platéia ensandecida tocava todos os aparelhos de barulho, apitos, cornetas, uma mulher a meu lado se esgoelava como se estivesse a morrer, um grupo sentado a frente mais parecia entrar em nirvana.
Neste momento pensei: Ai está. O elo entre o homem e o macaco.

domingo, março 12, 2006

O amigo das namoradas dos amigos

Tinha muitos amigos o Astronor. Por todos era muito querido. Não lhe faltavam convites para sair e seu Orkut era cheio de testemunhos exaltantes.
Não era por falta de carisma, então, que Astronor vivia sozinho. Morava sozinho e não tinha namorada. Não que não quisesse uma companhia, mas era fielmente adepto do "antes só que mal acompanhado".
Da mesma fora, era Astronor muito bem quisto pelas namoradas. Não as suas, já que raramente tinha alguma, mas pelas de seus amigos. Estavam eles quase sempre acompanhados, de forma que Astronor frequentemente sobrava nos programas com sua turma. Mas isso não incomodava Astronor. Nem a seus amigos. E muito menos às namoradas.
Na verdade, Astronor era muitas vez a grande estrela nesses encontros. Dele partiam as melhores conversas sobre cinema, literatura, atualidades e história. Suas histórias sobre viagens feitas encantavam a todas. Até de futebol ele entendia e falava bem!
As meninas o adoravam. A ponto de reclamarem com os namorados quando não saíam com ele.
- Ah, chama o Astrô, ele é tão divertido...
E não entendiam porque não tinha namorada. Um moço tão interessante devia ter muitas pretendentes... E viviam prometendo apresentá-lo a uma hipotética amiga perfeita, que, misteriosamente, nunca aparecia.
E assim ficaram por muitos meses.
Foi com alegria então que todos receberam a notícia de que Astronor estava namorando. A felizarda, além de inteligente (requisito fundamental para ele), era muito bonita. Foi muito bem aceita por amigos e namoradas, passou a fazer parte da turma. Dava gosto ver os dois juntos.
E assim ficaram por alguns meses.
Quando todos já tinham se acostumado ao novo casal e ele deixou de ser novidade, sem grandes explicações, Astronor terminou seu namoro. Tinha, inclusive, cortado totalmente as relações com a menina. A briga parecia ter sido feia. Quando perguntado sobre os motivos, respondia curta e laconicamente:
- Desentendimentos, desavenças...
Embora tenha ficado as primeiras semanas bastante introspectivo (alguns chamariam de triste mesmo), depois de um mês, já estava recuperado. Era bom tê-lo de volta ao convívio normal, sua ausência era muito sentida. E muito sentida também pelas namoradas, que animaram-se com o retorno do amigo. As conversas animadas tornariam, as praticamente lições de cinema iriam voltar, o papo aumentaria de nível novamente.
E assim ficaram por muitos meses.
Até que, certo dia, Astronor recebeu uma estranha notícia, de um amigo seu:
- É, cara, nós dois. Espero que você não se importe, mas estou namorando com ela.
Era muito estranho voltar a ter contato com ela daquela forma, naquela situação. Os primeiros reencontros foram desajeitados, não se sabia muito bem sobre o que falar, nem para onde olhar.
Mas assim se passou bem pouco tempo.
Depois de algumas saídas, Astronor resignou-se. Ao menos iam voltar a ser amigos.

As pequenas coisas da vida são atropeladas por um fone de ouvido

No meio do caminho tinha um muro
Tinha um muro no meio do caminho
Eu dei a volta sem notá-lo
E perdi a chance de fazer um poema

Pagando pecados à taxa Selic

Mais um fim de semana de Renato Russo na minha janela.
E ainda tem gente que é contra a pena de morte...

sexta-feira, março 10, 2006

Aviso prévio

Trim, trim, trim...
Acordou Joilson, assustado, com o toque insistente do telefone.
- Alô, Joilson falando.
- Joilson aqui é Deus e você tem um minuto de vida.
Desesperado, Joilson saiu de casa correndo loucamente pela rua. Não conseguia pensar em nada. Um minuto e nada mais, espatifou-se no asfalto sem qualquer sinal de vida.

quarta-feira, março 08, 2006

Sem escolhas

Cala a boca e me beija
Não fala nada,
fica quieta e me deseja.

Nem mais uma palavra,
fica me olhando, sinta meu cheiro
prova do meu gosto.

E se não for bom? Não importa
é o que posso lhe dar.

terça-feira, março 07, 2006

Racismo no Futebol: o círculo e o bom-senso

Depois de mais uma cena de racismo, agora no futebol brasileiro, a confirmação de uma idéia: a história é cíclica, gira como uma "roda viva", acerta os mesmos acertos e erra os mesmo erros.
Em ano da maior festa do futebol mundial, atitudes, por certos desprezíveis, tomam conta dos campos de futebol e noticiários do mundo. Na Europa, onde seus clubes, são repletos de atletas brasileiros, africanos, latinos ou árabes, muitos deles, negros, a situação é alarmante. Recentemente, o jogador camaronês, Samuel Eto’o quase abandonou o campo por não suportar a hostilidade da torcida adversária frente a sua cor.
Seja no futebol, no patins, ou na bola de gude, a ferida da discriminação racial é muito grande, e ainda vai demorar muito para cicatrizar. A coisa é séria, vai muito mais além do que jogos de futebol, envolve a história de um povo que foi escravizado a pouco tempo atrás e vive as conseqüências desse fato até hoje, envolve o brios e o orgulho de uma raça humana.
O futebol é só um microcosmos de um grande macrocosmos, é só um recorte da sociedade. A verdade é que isso se repete em todos os setores da sociedade, seja no esporte, na vida profissional ou no cotidiano. Atitudes mais enérgicas têm que ser tomadas sim.. Não podemos fechar os olhos e aplaudir nazi-fascistóides, seja ele brasileiro, argentino ou europeu.
Podem até argumentar que dentro das quatro linhas, "vale tudo", "tudo mesmo". Podem até dizer que chamam um jogador especificamente de cachaceiro, assassino e mercenário, e não tem qualquer repercussão, entretanto isto se refere a uma situação peculiar de apenas um homem, porém entoar cantos, gritos de cunho racistas atinge uma dimensão maior, atinge um povo, atinge a história não feliz de um povo que até hoje sofre devido sua cor. Perceber isso e que ISSO não se trata apenas de futebol, é, como diria um amigo meu: "Questão de bom senso."

segunda-feira, março 06, 2006

Racismo no futebol: uma opinião um pouco diferente

Final de 2002. Mineirão lotado para Atlético X Corinthians, pelas quartas de final do Brasileiro daquele ano. Minha primeira vez no Gigante da Pampulha foi inesquecível. Além da chinelada histórica levada pelo Galo, um fato contribuiu para que a partida ficasse gravada em minha memória para sempre. A hostilidade da torcida atleticana para com seu ex-ídolo, o atacante Guilherme, então defendendo o clube paulista, foi imensa. A cada toque seu na bola, gritos de "assassino, cachaceiro e mercenário", fazendo referência a um acidente de trânsito com vítimas fatais, ecoavam nas arquibancadas. O Atlético foi massacrado, mas Guilherme, completamente perturbado, não acertou um passe de meio metro sequer. O fato não gerou maiores repercursões.
Corta para o início de 2006. Zaragoza, Espanha. O atacante africano Samuel Eto'o pede para deixar o campo por não suportar mais as ofensas da torcida adversária, que imita macacos toda vez que o craque toca na bola. Cena cada dia mais comum nos gramados europeus. Por todas as partes pedem-se providências mais enérgicas contra tal manifestação racista.
Não há dúvidas que o racismo é um sentimento detestável, principalmente enquanto sintoma de burrice que é. Deve ser combatido sempre que possível, à pena de levar a monstros como o nazi-fascismo.
No entanto, vejo as ofensas aos negros que jogam na Europa sob um outro prisma. A torcida (enquanto massa, não enquanto indivíduos), durante o jogo, tem apenas um desejo: que seu time vença. Para ajudar nisso, usará de todas (eu disse todas) as armas que tiver à disposição. E, se aquilo funcionar, não exitará em repetí-lo, mesmo que vá de encontro a alguma convicção pessoal. Afinal, tenho certeza que a grande maioria dos que praticaram as macaquices em Zaragoza não tiveram o menor problema em sair do estádio e tomar uma cerveja com algum amigo negro ou árabe.
Se esse tipo de besteira funcionasse aqui no Brasil, eu mesmo não exitaria em me vestir de King Kong num jogo contra o Flamengo.
E, de racista, eu não tenho nada. Quem me conhece, sabe. Ou acabou de mudar de idéia.

domingo, março 05, 2006

Ponte

Domingo de céu nublado e sem futebol no Mineirão. Um desgraçado insiste em escutar Renato Russo e seu grupo gay ao último volume na minha janela.
Enquanto isso, a centenas de quilômetros de distância, o Colo Colo se apresenta num Mário Pessoa lotado. Que saudade de Ilhéus e dos Ninjas do Arrocha...