ecce blog

Odiamos blogs. Quer dizer, odiamos o uso idiota que as pessoas fazem dos blogs. Também odiamos o uso idiota que as pessoas fazem dos fotologs. Quer dizer, odiamos fotologs. Mas adoramos rir deles! O "ecce blog" foi criado como uma forma de dar vazão a nossos impulsos criativos. Não há tema fixo. Há, sim, um tema a se evitar fixo. Não faremos disso um diário virtual. Sim, besteira é permitida. Falar mal dos outros também. Vamos ver até onde vai...

sábado, maio 28, 2005

O homem do guarda-chuva

A primeira vez que viu um daqueles, chovia muito. Estava com sua surrada sombrinha, quando se encontrou com o imponente guarda-chuva. Guardou aquela imagem na cabeça, jamais tinha visto um tão grande, e jurou que conseguiria um igual.
Já era fim de mês, por isso seu salário já tinha acabado há muito tempo. Retirou da intocável poupança uma modesta quantia. Remoeu esse fato por muito tempo, mas, com certeza, valeria a pena.
No dia, ficou mais engomado do que o normal. Encaminhou-se ao camelô escolhido após a pesquisa de preço e adquiriu seu precioso guarda-chuva. Foi ao trabalho e apresentou o artefato para seus colegas de profissão.
Aguardou ansioso pelo dia chuvoso. Jamais esqueceu de levá-lo para onde fosse. Testou várias vezes no chuveiro de sua casa.
Os dias passavam e nem uma gota d’água foi ao chão. Seu entusiasmo virou cansaço.
Acordou naquele que parecia ser como os tantos outros dias. Realizou sua refeição matutina, arrumou-se como de costume e ameaçou levar o guarda-chuva. Desistiu.
Ao chegar à esquina, o tempo fechou, nuvens, ninguém sabe de onde, cobriam os céus e começaram a despejar suas lágrimas.
Arnaldo correu como um menino. Voltou à sua residência, apanhou o seu guarda-chuva e pôs-se a andar a caminho do trabalho. Passava entre as pessoas com um largo sorriso no rosto, ninguém entendia que agora ele fazia parte de um seleto grupo. Era um privilegiado.

terça-feira, maio 24, 2005

A intenção de Gude é boa, mas...

Aos vinte e três dias do mês de maio no corrente ano (2005), morreu Luan, cão da raça bassê de cor creme e estatura pequena, na esquina do cruzamento da Rua Carneiro da Rocha com a Rua Henrique Devoto em condições duvidosas.
Mesma esquina em que faleceu o memorável Bob, cão da raça pinch de cor preta e marrom com baixa estatura. Da mesma forma que aconteceu com Bob, sucedeu-se com Luan. Seus corpos foram encontrados na misteriosa esquina já desacordados, sem alguma marca ou sinal que levassem a solução do nefasto acontecimento.
No caso de Luan, uma testemunha, que não quer ser reconhecida, afirma ter visto o cãozinho se tremendo por aquelas imediações pouco antes do trágico. Em se tratando do “Papai Bob” a trama é rodeado de perguntas sem respostas, pois a vizinhança não viu e nem ouviu nada.
Os dois Cães tinham muito em comum. Eram inveterados amantes da vida, queridos e amados por todos.
Em recente declaração, Gude, garoto de cinco anos e um dos donos de Luan, falou que:
- Não tem problema, agente compra outro. Foi papai do céu que chamou.
A intenção de Gude é boa, mas precisamos investigar que mistério ronda a trágica esquina.

sábado, maio 21, 2005

Falácias II

Desde a minha infância escuto com uma irritante insistência a bendita frase: “Meu filho, Jesus morreu para nos salvar.”. Na verdade, passei um considerável tempo de minha vida sem saber do que aquilo se tratava. Apenas ouvia, mas não assimilava, afinal aqueles me falavam tal ensinamento mereciam o devido respeito.
A partir de um dado momento, me pus a analisar a assertiva em questão e cheguei à conclusão que se tratava de uma legítima falácia. Afinal, Jesus Cristo morreu para salvar quem? Para salvar o que? E se ele não tivesse morrido, o que aconteceria? O mundo mudou alguma coisa com a morte de Jesus? Quem lucrou com isso? O FMI?
Se Deus tinha um plano para o seu filho, foi o pior possível para o menino, para ele e para nós. Ele deve ter se arrependido de ter feito o filho sofrer tanto. Jesus, coitado, levou espinho na cara, fel na boca e chicote nas costas; não deve ter gostado. E nós perdemos um dos homens mais sensatos prematuramente, que “de quebra” mandava morto se levantar.
Se olharmos bem, Jesus morreu para piorar nossa situação. O pai manda o filho dele para melhorarmos como pessoa, nós retribuímos crucificando o homem.
Batizaram-me e eu entrei na comunidade cristã, catequizaram-me e pela primeira vez comunguei com a Santíssima Trindade, crismei para confirmarem o meu encontro com o SENHOR, por fim decidi não mais compactuar com toda essa besteira.
Mas ainda não encontrei a tão esperada resposta: Se Jesus não tivesse morrido, o que aconteceria? No final de contas, quem este santo homem salvou com sua impiedosa morte?

terça-feira, maio 10, 2005

“Riquezas são diferenças”: Alerta ao amigo estrangeiro.

Machado de Assis tocou na ferida quando escreveu em seu livro “Teoria do Medalhão”: “Idéias. Melhor não tê-las.”. Nele, o escritor conta a história de um pai que apresenta ao filho, que acabara de completar vinte e um anos, a fórmula de se ter sucesso no decurso da vida. De forma irônica Machado demonstra que as idéias diferentes são nocivas ao convívio em sociedade, por isso o pai do jovem rapaz o aconselha o ser o típico homem médio e diz : “(...) Proíbo-te que chegues a outras conclusões que não sejam as já achadas por outros. (...) Foge a tudo que possa cheirar a reflexão, originalidade...”
Machado estava certo. A sociedade repudia a opinião alheia muito divergente de forma veemente. Não sabemos conviver com o diferente e quando nos é apresentada outro prisma entramos num processo de rejeição que culmina o afastamento daquele ou aquilo que sucista uma visão diversa da normalidade. Então seria o lulante, em relação as idéias, não as termos, como muitíssimo bem salienta o escritor: “ (...) deves pôr todo o cuidado nas idéias que houveres de nutrir para uso alheio.”
Assis, sem sombra de dúvida, criticava tal comportamento em seu pequeno livro.
O argumento das idéias semelhantes é uma das maiores balelas que já tive contato. Precisamos do diferente, da divergência, do conflito, da construção diária de uma sociedade que saiba conviver com o oposto sem repudiá-lo. Vivemos num mundo de caos e necessitamos disso, é da situação caótica que surge o novo, o autêntico.
Devemos partir de uma fase de desconfiança, para uma posterior e infinita averiguação das assertivas que nos permeiam. Sermos menos reverenciosos as outras pessoas, a nossa família, ao padre, ao papa, pastor, amigos, chefe, professor, estrangeiros, governo. Ter coragem de ser autêntico sem medo de desagradar o alheio.
Não gosto das pessoas que estão ao meu redor e que concordam com tudo que digo, aliás, dessas, eu quero distância. Não tenho pretensões de ser um medalhão.
Fico com a frase de Vinicius de Moraes:
"Quem já passou
Por esta vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá
Pra quem se deu."

segunda-feira, maio 09, 2005

Aqui não!

Escreve o deputado federal Chico Alencar, do PT, numa coluna do jornal de Domingo, a respeito da execrada cartilha:
"Quando o meu Flamengo toma gol e a galera adversária grita 'ela, ela, ela, silêncio na favela' ou 'urubu, vai tomar no *', fico duplamente chateado, pois o tom da multidão é evidentemente discriminatório".
Um recado aos senhores comunistas-totalitaristas:
Vocês podem querer sugerir o que eu devo ou não falar. Podem tentar controlar os meios de comunicação e a produção cultural do país. Podem inventar formas de supervisionar o Judiciário. Podem aparelhar totalmente a máquina burocrática do Estado. Podem até governar ignorando a existência do Legislativo.
Mas não se metam com o futebol, senão o bicho vai pegar pro lado de vocês. E tenho dito.

Falácias.

Uma das frases feitas que pouco me agrada é aquela que diz: " Nem Jesus agradou a todos."
Paremos para analisá-la. Ela surge quando a opinião de uma pessoa, alguém ou algo está contemplando uma parte e a outra está insatisfeita. Eis que nessa situação de "não unanimidade" brota a certeira solução frasal, citada sempre por um dos sábios populares que na hora ocupavam o recinto de discórdia.
Eu discordo dela. Se existiu no mundo alguém que não podia atingir a unanimidade era Jesus Cristo.
Até gosto do Cristo, mas voltemos a analisar. Primeiro ponto de discórdia, concebido pelo Espírito Santo, isso é, no mínimo, duvidoso. José casado com Maria a anos nunca comeu essa mulher? Que estranho! Prefiro acreditar que o nome dele era José Espírito Santo. Essa duvidosa origem abalou sua credibilidade. Segundo ponto, Jesus tentou implantar uma crença religiosa numa época de total instabilidade religiosa e política, dizendo ser o filho do criador do mundo. Acho que, pelo menos, as pessoas tinham direito a dúvida sobre tal afirmação. Terceiro, findando, embora não esgotando, Tomé, um dos doze apóstolos que o viu curar, mandar morto se levantar, transformar água em vinho não acreditou que ele podia ressuscitar, não sou eu, dois mil e cincos anos depois, que vou.
Sendo assim, acho que deveríamos modificar o adágio popular acima para: "Nem Pelé agradou a todos." Não conheço outra pessoa mais unânime que o negrão jogando bola.