ecce blog

Odiamos blogs. Quer dizer, odiamos o uso idiota que as pessoas fazem dos blogs. Também odiamos o uso idiota que as pessoas fazem dos fotologs. Quer dizer, odiamos fotologs. Mas adoramos rir deles! O "ecce blog" foi criado como uma forma de dar vazão a nossos impulsos criativos. Não há tema fixo. Há, sim, um tema a se evitar fixo. Não faremos disso um diário virtual. Sim, besteira é permitida. Falar mal dos outros também. Vamos ver até onde vai...

domingo, março 27, 2005

Choque

As coisas que chocam.

O choque é vivo.

Viva o choque!

Choque a vida.

sábado, março 26, 2005

O Sonho

Eu sonho com um mundo diferente
Um mundo ilha-eu-filmes-discos-livros
e uma mulher
muda
Sem futebol
sem chuva
(ou só com chuva)
Sem tsunamis
e sem milagres
Sem programação em C
e sem despertadores
Sem celular
Sem pizza de milho

sexta-feira, março 25, 2005

Coisas do Valmir.

Quem o conhecera anteriormente, jamais o reconheceria hoje.
Melhor do que todos, sabia se fazer essencial nas grandes ocasiões da alta roda social, mesmo que não fosse. Valmir ,como poucos, era requisitado em bailes de 15 anos, festas de diversas pessoas, em qualquer lugar onde glamour clamava pela presença dele.
No colégio, o som que mais se ouvia eram os sussurros apaixonados por aquele moço que de alguma forma preenchia os espaços.
Mas o que mais chamava a atenção em Valmir era a sua completude. Inteligente, esportista, belo e divertido. Ele era Vanguarda.
Quem não o conhecia ? Quem nunca tinha ouvido falar? Que menina nunca sonhou em flertar com ele?
Assim se fez o mito, fez-se o ícone.
Até hoje duvido ser a mesma pessoa em questão. Embora com a mesma casa, a mesma família e o mesmo nome, Valmir, nem de longe, parece o Valmir.
Afastado de todo o glamour das grandes ocasiões. Atualmente ele caminha na multidão como mais um desconhecido entre tantos desconhecidos.
Sobrevive fazendo bicos que o seu prestígio de outrora lhe rendera. Porteiro de show, malabarista de praia, vendedor de loja.
Rendeu-se a fé evangélica. Entregou-se ao comum da vida.
Quem o conhecera anteriormente e tenta reconhecê-lo agora, prefere lembrar com saudades do grandioso Valmir.

segunda-feira, março 21, 2005

Crítica: "Eu Não Tenho Medo"

Ao brincar com seus amigos num lugar afastado do vilarejo italiano em que vive, Michele encontra, no fundo de um buraco enlameado coberto por um pedaço de telha, o que parece ser um cadáver. Com a curiosidade típica das crianças, o garoto retorna no dia seguinte ao local do achado, descobrindo então, que sua descoberta não era bem o que pensava. O estranho habitante subterrâneo está vivo e fala sua língua.
O que parecia, a princípio, ser uma história de fantasia, revela-se, rapidamente, algo totalmente real. Michele descobe que, na verdade, a criatura que acabou de conhecer é um menino como ele e que o buraco é o cativeiro em que é mantido por seus sequestradores. E estes são, ninguém mais, ninguém menos, que seus pais.
Esse abandono do que poderia ser um conto encantado em direção a uma trama calcada em acontecimentos plausíveis marca este "Eu Não Tenho Medo". E o experiente diretor Gabriele Salvatores faz sempre questão de manter um certo clima de dualidade sonho/realidade. A câmera quase que alada na cena em que Michele retorna do seu primeiro encontro com Filippo (esse é o nome do outro garoto) é um dos mais fortes símbolos disto. Um recurso diferente e interessante, embora tenha me deixado tonto.
Um outro ponto forte do filme, e que, para mim, reforça a sensação de ilusão que o filme passa, é a irmã de Michele, Barbara. A menina, sem maiores funções na trama, parece estar ali apenas para acrescentar-lhe mais um elemento surreal. Suas participações são sempre um tanto quanto etéreas, meio apavorantes. Talvez tenha sido só aos meus olhos, mas achei este personagem digno de qualquer filme de terror do tipo "O Iluminado".
Outro destaque que salta aos olhos são as belíssimas locações. Os campos de trigo sobre os quais passam-se muitas das cenas entre as crianças são paisagens realmente maravilhosas. O buraco em que vive Filippo também é contruído de forma impressionante. Extremamente claustrofóbico e assustador, é onde ocorrem as melhores cenas do filme, quando ainda não se sabe exatamente quem é aquele ser e porque está ali. Algumas cenas são realmente impactantes ("Estou morto, estou morto", grita Filippo em certo momento).
O uso extremamente batido da amizade que surge entre os dois meninos não chega a ser irritante neste filme. Talvez por serem os dois personagens bem construídos e de fácil assilimilação pelo público.
No final das contas, "Eu Não Tenho Medo" me parece abstrair-se de maiores intenções morais. O que se quer, aqui, é contar uma história, bastante interessante, por sinal. Objetivo, assim, plenamento atingido.

Filme visto no Usina, Belo Horizonte, a 24 de Fevereiro de 2005

sábado, março 05, 2005

Crítica: "Ray"

Filmes sobre astros da música costumam resultar em incorporações por parte dos atores principais. Foi assim com Val Kilmer em "The Doors" e Daniel de Oliveira no tenebroso "Cazuza", por exemplo. Desta vez acontece com Jamie Foxx na pele de Ray Charles (ou vice-versa).
"Ray" é a biografia do gênio americano que praticamente inventou o soul. O diretor Taylor Hackford (de "Advogado do Diabo") opta por interferir pouco, deixando a história, interessante por si própria, fluir solta. Pessoas que conhecem mais da vida do pianista comentam que o filme deixa passagens importantes de lado. Para mim, serviu perfeitamente como introdução à sua maravilhosa obra. E o roteiro é bem amarrado e coeso, de forma que é possível identificar claramente a evolução do protagonista. Não acontecem aqui coisas do tipo Caetano Veloso gravando uma música de um artista totalmente desconhecido num dia que parece ter sido imediatamente seguinte a um obscuro show para meia dúzia de pessoas no Circo Voador.
Muito interessante é acompanhar de perto a gênese de clássicos como "Mess Around" e "Hit The Road, Jack". Não sei o quanto de criação por parte do diretor há nessas cenas, mas, dado o clima contrário, imagino que devam ter correspondido mais ou menos à realidade. Até porque o próprio Ray Charles acompanhou as filmagens.
O filme utiliza-se do recurso de flashbacks para explicar passagens importantes da infância do músico. Todas elas poderiam ter sido condensadas numa única parte, obedecendo à ordem cronológica dos fatos, mas parece que os diretores atuais não resistem a um pouco de não-linearidade. Esses momentos parecem ser também onde afloram mais fortemente os impulsos criativos do autor e são responsáveis por bons momentos, tecnicamente falando.
"Ray" é um filme não muito pretensioso e até leve, de certa forma. Assim sendo, é muito difícil de desagradar em cheio.
A "interpretação" de Jamie Foxx, que lhe rendeu o Oscar, é o que acaba chamando realmente a atenção em "Ray". Coloco a palavra entre aspas porque não considero isso uma verdadeira atuação. Foxx simplesmente se rende totalmente a Ray Charles, num caso singular de possessão por alma ainda viva. O fato de permanecer quase todo o tempo com óculos escuros colabora com a sensação de se estar diante do verdadeiro Ray. Curioso perceber quanto da imagem física de uma pessoa depende de seus olhos. Esse tipo de incorporação certamente é de extrema valia ao filme, mas tenho ressalvas a respeito. O ato de interpretar, para mim, demanda exatamente isso. Que o ator exiba uma visão própria do personagem, não simplesmente deixando este falar totalmente por si. De qualquer forma, essa é uma opinião muito particular. Cada gesto, cada tique, o modo de falar, de andar e, principalmente, de tocar são perfeitamente emulados por Jamie Foxx, que, inclusive, tocou de verdade no filme. Para quem gosta deste tipo de coisa, "Ray" simplesmente tem que ser visto.

Filme visto no Cinemark, Belo Horizonte, a 23 de Fevereiro de 2005

quarta-feira, março 02, 2005

Diabólicas crianças.

Cruz, cruz quem olhar matou Jesus.
Colher de pau, colher de ferro quem olhar vai para o inferno.

E quem de nós nunca olhou?

terça-feira, março 01, 2005

Morte e Vida Severina.

Recentemente a Revista Veja chegava as bancas com a seguinte reportagem de capa: " O susto Severino". Não precisava nem abrir o caderno para ler a tal reportagem, o título bastava e representava aquilo o que realmente foi a vitória do Inacreditável Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara dos Deputados.
Até hoje o palácio do planalto tenta encontrar explicações para a situações. Uns atribuem a culpa ao PT, outros dizem ser a derrota do próprio Governo. De quem foi? Pouco importa. O que mais importa agora são as consequências da presidência da Câmara estar nas mãos de um fanático fiel da Igreja Católica, um caduco que consegue ter idéias mais retrogradas do que as que já temos.
Basta que ele não queira e o projeto que o desagradar será engavetado por tempo indeterminado. Claro que todos os presidentes possuem tal poder, o grande problema é quando uma pessoa que não possui articulação mental e oral, como salientou a Folha de São Paulo, passa a ocupar este bendito cargo. É no mínimo perigoso.
Mas que isso, pretende em seu mandato transformar a câmara num verdadeiro sindicato. Lutar pela sua classe sofrida e nada mais. Aumento salarial de 12,5 para 21,5 e compra de carro oficial para cada um dos deputados, além de esquecer a proposta de redução das férias de 90 dias para 30 dias.
A vitória de Severino reflete o atual cenário político. Um cenário confuso que um governo de contrastes ideológicos produziu. A reforma universitária, as atitudes sempre reverentes ao capital estrangeiro, as declarações do nosso querido barbudo, a transposição do Rio São Francisco. Absurdos como o próprio deputado Severino ser presidente da câmara dos deputados.
Estou começando entender o medo de Regina Duarte e desconfiar do meu voto para o companheiro.
Esse governo deveria vir com a seguinte observação:
Brasil, um país de todos.
Obs: Não aconselhável para portadores de doenças cardíacas.