ecce blog

Odiamos blogs. Quer dizer, odiamos o uso idiota que as pessoas fazem dos blogs. Também odiamos o uso idiota que as pessoas fazem dos fotologs. Quer dizer, odiamos fotologs. Mas adoramos rir deles! O "ecce blog" foi criado como uma forma de dar vazão a nossos impulsos criativos. Não há tema fixo. Há, sim, um tema a se evitar fixo. Não faremos disso um diário virtual. Sim, besteira é permitida. Falar mal dos outros também. Vamos ver até onde vai...

sábado, março 05, 2005

Crítica: "Ray"

Filmes sobre astros da música costumam resultar em incorporações por parte dos atores principais. Foi assim com Val Kilmer em "The Doors" e Daniel de Oliveira no tenebroso "Cazuza", por exemplo. Desta vez acontece com Jamie Foxx na pele de Ray Charles (ou vice-versa).
"Ray" é a biografia do gênio americano que praticamente inventou o soul. O diretor Taylor Hackford (de "Advogado do Diabo") opta por interferir pouco, deixando a história, interessante por si própria, fluir solta. Pessoas que conhecem mais da vida do pianista comentam que o filme deixa passagens importantes de lado. Para mim, serviu perfeitamente como introdução à sua maravilhosa obra. E o roteiro é bem amarrado e coeso, de forma que é possível identificar claramente a evolução do protagonista. Não acontecem aqui coisas do tipo Caetano Veloso gravando uma música de um artista totalmente desconhecido num dia que parece ter sido imediatamente seguinte a um obscuro show para meia dúzia de pessoas no Circo Voador.
Muito interessante é acompanhar de perto a gênese de clássicos como "Mess Around" e "Hit The Road, Jack". Não sei o quanto de criação por parte do diretor há nessas cenas, mas, dado o clima contrário, imagino que devam ter correspondido mais ou menos à realidade. Até porque o próprio Ray Charles acompanhou as filmagens.
O filme utiliza-se do recurso de flashbacks para explicar passagens importantes da infância do músico. Todas elas poderiam ter sido condensadas numa única parte, obedecendo à ordem cronológica dos fatos, mas parece que os diretores atuais não resistem a um pouco de não-linearidade. Esses momentos parecem ser também onde afloram mais fortemente os impulsos criativos do autor e são responsáveis por bons momentos, tecnicamente falando.
"Ray" é um filme não muito pretensioso e até leve, de certa forma. Assim sendo, é muito difícil de desagradar em cheio.
A "interpretação" de Jamie Foxx, que lhe rendeu o Oscar, é o que acaba chamando realmente a atenção em "Ray". Coloco a palavra entre aspas porque não considero isso uma verdadeira atuação. Foxx simplesmente se rende totalmente a Ray Charles, num caso singular de possessão por alma ainda viva. O fato de permanecer quase todo o tempo com óculos escuros colabora com a sensação de se estar diante do verdadeiro Ray. Curioso perceber quanto da imagem física de uma pessoa depende de seus olhos. Esse tipo de incorporação certamente é de extrema valia ao filme, mas tenho ressalvas a respeito. O ato de interpretar, para mim, demanda exatamente isso. Que o ator exiba uma visão própria do personagem, não simplesmente deixando este falar totalmente por si. De qualquer forma, essa é uma opinião muito particular. Cada gesto, cada tique, o modo de falar, de andar e, principalmente, de tocar são perfeitamente emulados por Jamie Foxx, que, inclusive, tocou de verdade no filme. Para quem gosta deste tipo de coisa, "Ray" simplesmente tem que ser visto.

Filme visto no Cinemark, Belo Horizonte, a 23 de Fevereiro de 2005

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