Crítica: "O Aviador"
Tinha minhas dúvidas a respeito das virtudes de salas de cinema como as do Cinemark. A impressão era de que o aspecto grandioso pudesse amplificar impressões sobre os filmes em si, de certa forma distorcendo-as. Pode ser. Mas o fato é que ver "O Aviador" em outro tipo de lugar teria sido uma experiência diferente e bem menos impressionante.
Martin Scorcese, assim como Quentin Tarantino, por exemplo, é um dos cineastas que mais parecem apaixonados pelo que fazem. Sabiamente, ele deixa isso escorrer para seus filmes, chegando aos personagens e atingindo facilmente o público.
Neste, Leonardo Di Caprio interpreta Howard Hughes, o megamilionário americano cuja ambição, entre as décadas de 20 e 40, não parecia ter limites. Aqui, acompanha-se sua trajetória na construção do império que abrangeu uma fábrica de aviões, uma operadora de linhas aéreas e um punhado de super-produções cinematográficas.
A presença de Leonardo Di Caprio parece emprestar um tom um tanto quanto infantil ao protagonista, como se o mundo fosse seu playground e suas obras fossem meras brincadeiras, sujeitas a seus caprichos e manias, que, aliás, não são poucas. São essas, juntamente com o envolvimento com personalidades como Katharine Hepburn (Cate Blanchett, bastante exagerada, mas não por isso mal no papel) e Ava Gardner (Kate Beckinsale, maravilhosa e nula) as formas pelas quais Scorcese constrói a parte humana de seu Howard Hughes. Conforme a história avança, essas manias, transformadas em doença, passam a ocupar mais e mais a existência do magnata, chegando a dominá-lo por completo no bastante bizarro segundo ato do filme.
É exatamente nesse momento que começam a brotar os problemas mais sérios de "O Aviador". O roteiro parece picotado na última parte do filme. Personagens vão e vêm sem maiores explicações nem consequências e a recuperação de Hughes é mostrada de forma simplesmente abrupta demais ser levada a sério. Talvez as três horas de projeção tenham pesado e algumas idéias ficado de fora.
Leonardo Di Caprio mostra, mais uma vez, como em "Diário de Um Adolescente" e "Prenda-me se For Capaz", o ótimo ator que é. Pena não terem tido coragem de deformar seus dentes na queda do avião, único defeito daquela cena, uma das mais espetaculares desse início de século.
Claro apelo de Scorcese por um Oscar, "O Aviador" é, sem sombras de dúvidas, um excelente exemplar do execrado cinema de massas. A primeira sequência, da mãe com o filho, não parece ter função nenhuma na narrativa, a não ser a de voltar a aparecer no final. Assim mesmo, soa bastante como o tipo de coisa que a Academia gosta. Algo do tipo "para dar um sentido maior às coisas". A cena épica e, desde já, clássica, da queda do avião sobre Beverly Hills segue a mesma linha. Foi o momento em que a tela e, principalmente, o som do Cinemark fizeram-se valer. Lembra muito, em grandiosidade e intenção, o navio afundando em "Titanic". Verdadeira imersão numa realidade paralela por alguns instantes. Coisa para deixar qualquer fã da sala escura de pernas bambas.
Scorcese consegue construir, a partir de uma biografia, ao menos para mim, desinteressante, um filme do qual não se consegue desgrudar os olhos nem os ouvidos. Talvez por filmar um personagem em muito parecido com ele próprio, há um encantamento facilmente perceptível dos dois lados da câmera. Não sei se isso é mais forte que a vontade de ganhar o Oscar, mas o resultado final é bom demais para que se fique pensando nisso.
Martin Scorcese, assim como Quentin Tarantino, por exemplo, é um dos cineastas que mais parecem apaixonados pelo que fazem. Sabiamente, ele deixa isso escorrer para seus filmes, chegando aos personagens e atingindo facilmente o público.
Neste, Leonardo Di Caprio interpreta Howard Hughes, o megamilionário americano cuja ambição, entre as décadas de 20 e 40, não parecia ter limites. Aqui, acompanha-se sua trajetória na construção do império que abrangeu uma fábrica de aviões, uma operadora de linhas aéreas e um punhado de super-produções cinematográficas.
A presença de Leonardo Di Caprio parece emprestar um tom um tanto quanto infantil ao protagonista, como se o mundo fosse seu playground e suas obras fossem meras brincadeiras, sujeitas a seus caprichos e manias, que, aliás, não são poucas. São essas, juntamente com o envolvimento com personalidades como Katharine Hepburn (Cate Blanchett, bastante exagerada, mas não por isso mal no papel) e Ava Gardner (Kate Beckinsale, maravilhosa e nula) as formas pelas quais Scorcese constrói a parte humana de seu Howard Hughes. Conforme a história avança, essas manias, transformadas em doença, passam a ocupar mais e mais a existência do magnata, chegando a dominá-lo por completo no bastante bizarro segundo ato do filme.
É exatamente nesse momento que começam a brotar os problemas mais sérios de "O Aviador". O roteiro parece picotado na última parte do filme. Personagens vão e vêm sem maiores explicações nem consequências e a recuperação de Hughes é mostrada de forma simplesmente abrupta demais ser levada a sério. Talvez as três horas de projeção tenham pesado e algumas idéias ficado de fora.
Leonardo Di Caprio mostra, mais uma vez, como em "Diário de Um Adolescente" e "Prenda-me se For Capaz", o ótimo ator que é. Pena não terem tido coragem de deformar seus dentes na queda do avião, único defeito daquela cena, uma das mais espetaculares desse início de século.
Claro apelo de Scorcese por um Oscar, "O Aviador" é, sem sombras de dúvidas, um excelente exemplar do execrado cinema de massas. A primeira sequência, da mãe com o filho, não parece ter função nenhuma na narrativa, a não ser a de voltar a aparecer no final. Assim mesmo, soa bastante como o tipo de coisa que a Academia gosta. Algo do tipo "para dar um sentido maior às coisas". A cena épica e, desde já, clássica, da queda do avião sobre Beverly Hills segue a mesma linha. Foi o momento em que a tela e, principalmente, o som do Cinemark fizeram-se valer. Lembra muito, em grandiosidade e intenção, o navio afundando em "Titanic". Verdadeira imersão numa realidade paralela por alguns instantes. Coisa para deixar qualquer fã da sala escura de pernas bambas.
Scorcese consegue construir, a partir de uma biografia, ao menos para mim, desinteressante, um filme do qual não se consegue desgrudar os olhos nem os ouvidos. Talvez por filmar um personagem em muito parecido com ele próprio, há um encantamento facilmente perceptível dos dois lados da câmera. Não sei se isso é mais forte que a vontade de ganhar o Oscar, mas o resultado final é bom demais para que se fique pensando nisso.
Filme visto no Cinemark, Belo Horizonte, a 14 de Fevereiro de 2005
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