ecce blog

Odiamos blogs. Quer dizer, odiamos o uso idiota que as pessoas fazem dos blogs. Também odiamos o uso idiota que as pessoas fazem dos fotologs. Quer dizer, odiamos fotologs. Mas adoramos rir deles! O "ecce blog" foi criado como uma forma de dar vazão a nossos impulsos criativos. Não há tema fixo. Há, sim, um tema a se evitar fixo. Não faremos disso um diário virtual. Sim, besteira é permitida. Falar mal dos outros também. Vamos ver até onde vai...

terça-feira, fevereiro 15, 2005

Crítica: "Sideways"

Dois amigos completamente diferentes fazem viagem de uma semana como despedida de solteiro de um deles. Nesse ínterim, o outro, deprimido, redescobre motivos para voltar a sorrir por causa do companheiro.
Você já viu isso antes? Certamente que sim. Você já se entendiou só com as primeiras linhas? Provavelmente, sim. Vale a pena ver esse filme? Surpreendentemente, sim!
Paul Giamatti faz Miles Davis, um homem de meia-idade, profundamente afetado por um casamento terminado há mais de um ano. Não parece achar muita graça na vida além do vinho. Jack, interpretado por Thomas Haden Church, é mais feliz em sua ignorância. Está mais preocupado em aproveitar a última semana de liberdade antes do casamento. Ambos são profissionalmente medíocres. Miles é professor de Literatura de uma turma de Oitava Série e tem as tentativas de publicação de seu livro sucessivamente rejeitadas por todas as editoras. Jack é um ator cujas aparições se resumem a comerciais e novelas. Algo como um Joey, do seriado "Friends".
A viagem, proposta por Miles, mostra-se logo de diferente significado para os dois. Se, para o primeiro, é uma oportunidade de experimentar novos vinhos e jogar golfe, para o outro é um último grito de liberdade antes da nova vida. Jack percebe que o amigo sofre ainda pelo fim do casamento e tenta fazê-lo aproveitar os dias longe da rotina para arrumar uma nova companheira.
Os conflitos entre os dois geram as cenas mais engraçadas do filme. Visões de mundo totalmente opostas e conceitos de diversão completamente diferentes tornam o diálogo praticamente impossível. Difícil entender como pode florecer a amizade em tal cenário, mas é assim que as coisas realmente são. Infelizmente, o jeito de ser de Miles parece ser fruto exclusivamente de sua depressão. Confesso que gostaria muito de ver um filme no qual tal tipo de comportamento fosse tratado como apenas diferente, sem maiores julgamentos.
A dupla de atores sai-se muito bem como os dois amigos tão diferentes. Giamatti volta a viver uma espécie de pária, bastante parecido com o Harvey Pekar de "Anti-Herói Americano", desta vez com um pouco mais de humor. Impressionante como tal tipo de personagem lhe cai bem. Sua habilidade em interpretar um andar meio cabisbaixo, com cara de quem vive com uma eterna coceira no ouvido é fantástica. Thomas Haden Church também vai muito bem como o garanhão de meia-idade sem tantas preocupações auto-impostas na cabeça. Talvez um pouco exagerado em alguns momentos, mas, afinal de contas, esta é uma comédia, e, portanto, o lugar certo para este tipo de coisa.
Um roteiro simples, na minha opinião, mas muito bem conduzido pelo excelente Alexander Payne. O filme é dividido em partes, cada uma correspondendo a um dia da viagem. Todas começam com o dia da semana escrito num fundo preto, menos a Quinta-Feira, num toque bastante inteligente (mais detalhes seriam indesejavelmente reveladores). Os diálogos são todos de alto nível, sejam eles cômicos ou não. Um, em particular, me chamou a atenção: prestes a se encontrarem com duas mulheres também apaixonadas por vinho, Jack pede ao amigo que apenas curta a noite, mesmo que elas queiram tomar Merlot.
- Não! Eu não vou tomar essa merda! - berra um desesperado Miles. Hilário.
Fotografia muito bonita, o que é bastante esperado num filme com tão forte presença do vinho. Não sei porque, mas parece que vinho não combina com feiúra.
Comédia de final possivelmente idealizado, mas não descabido. Evita uma profundidade que lhe tiraria a leveza e, possivelmente, o tornaria chato. Inteligente e muito divertido. Entretenimento com um algo a mais.

Filme visto no Belas Artes, Belo Horizonte, 09 de Fevereiro de 2005

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