ecce blog

Odiamos blogs. Quer dizer, odiamos o uso idiota que as pessoas fazem dos blogs. Também odiamos o uso idiota que as pessoas fazem dos fotologs. Quer dizer, odiamos fotologs. Mas adoramos rir deles! O "ecce blog" foi criado como uma forma de dar vazão a nossos impulsos criativos. Não há tema fixo. Há, sim, um tema a se evitar fixo. Não faremos disso um diário virtual. Sim, besteira é permitida. Falar mal dos outros também. Vamos ver até onde vai...

sábado, dezembro 31, 2005

Faroeste Urbano


O barulho de invasão interrompeu seu sono. Apanhou sua arma no guarda roupa e adentrou vagarosamente pela escuridão da casa. Já havia imaginado muito a futura cena. Estava preparado. Cara a cara com o gatuno armado. A dança da morte. O saque mais rápido. O corpo no chão.
Os filmes de Clint Eastewood por certo valeram à pena.

terça-feira, dezembro 27, 2005

Naturismo às avessas

Ao ler uma revista que circula em minha cidade, me deparei com uma reportagem que relatava sobre uma Praia de Nudismo na Linha Verde, próximo a cidade de Salvador. A notícia falava sobre as belezas naturais do local, sobre a liberdade de andar nu e sobre as regras para entrar e se manter no lugar.
Só casais e mulheres sozinhas podem entrar. Os homens teriam que se despir completamente, enquanto as mulheres poderiam apenas fazer um top less. Não é permitido qualquer comportamento considerado libidinoso, a exemplo de beijos mais ardentes, muitos menos amassos. Também não se permite praticar esportes que ponham em risco a integridade física e moral dos transeuntes. Enfim, nada é permitido.
A filosofia do Naturismo prega "... um apelo, um caminho, um retorno aos valores humanos do natural, do bem estar do corpo e mente sadia. Ser natural e viver natural é ser livre de um bocado de coisas medíocres e alienantes."
Em que pese a filosofia naturista falar sobre valores do homem natural, ser natural e se livrar de um bando de coisas medíocres e alienantes; não é isso que parece.
Em qualquer sociedade planetária, quando se fala em nudez, lembramos de órgão genitais. Sabemos também do que eles são capazes, da ereção masculina - não existe coisa mais natural –dos mamilos rígidos e sôfregos da mulher excitada, ou mesmo a vulva "molhadinha" da mulher tocada, enfim as pulsões sexuais, o sexo é o que temos de mais natural. O que era para ser natural, torna-se artificial demais.
A praia de nudismo, onde se pratica o naturismo, vem coibir estes instintos, ninguém pode fazer absolutamente nada que leva à uma conotação sexual, sob a pena de ser banido como Eva e Adão. Lá deveria ser diferente, mas a moral é muito mais cruel. Homens solteiros não entram, pois a sacanagem é presumida. Mulheres podem, sob qual argumento não sei. Não se pode olhar para o lado, observar os ‘trigais", comparar os instrumentos, nada. É uma verdadeira prisão sem muros.
Prefiro ir a minha praia, onde todos podem estar cobertos ou minimamente cobertos, mas posso liberar as minhas pulsões sexuais. Lá eu sou mais NATURAL.

segunda-feira, dezembro 26, 2005

A Outra

Naquele dia Arnaldo chegou radiante, bateu às portas daquela discreta casa com um largo sorriso no rosto, assobiava como um menino e segurava em suas mãos, um formoso buquê de rosas. Laura correu para abrir e quando viu o rosto de Arnaldo, ficou felicíssima. Achou que ganharia um outro presente. Arnaldo ainda encenou alguns rodeios e deu a notícia que tinha se separada da sua mulher Lindalva e agora poderia se casar com ela.
Laura irritou-se profundamente:
- Como pode? Abandonar uma família? Um casamento de 15 anos e ainda por cima filhos para criar. Está louco?
- Mas Laura, eu achei....
- Nunca pedi para você achar nada, só fazia meu papel de amante, reclamando e choramingando o resto, mas este é meu papel e não quero perdê-lo. Ponha-se em seu lugar, pois eu sei qual é o meu.

Arnaldo voltou para sua casa, reatou com Lindalva que esperava chorosa pelo seu retorno. Laura continuou a esperar pelas visitas de Arnaldo no seu legítimo papel de a outra.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Crônica de um São Paulino

O coração já não agüentava mais de tanto bater forte. Nos corredores da Universidade, no trabalho, na rua ou em casa não se falava em outra coisa. Angústia, provocações, apostas, especulações e paixões rondavam os torcedores do São Paulo que esperavam eufóricos e apreensivos pela final do Campeonato Mundial de Interclubes.
Nem o nervosismo do primeiro jogo tricolor poderia aplacar a confiança dos mais fiéis. E, se o Liverpool chegou à final dando um baile no seu adversário e considerando ser imbatíveis, não conhecia a esquadra de três cores e tradição que estavam por enfrentar. Nada mais, nada menos que 2 títulos mundiais na bagagem, 92 e 93 de pura emoção. Deviam os vermelhos ter aprendido com Barcelona e Milan, ou até mesmo perguntar a Zubizarreta o porque de não ter cumprimentado Zetti naquela final.
O time era outro, não tínhamos a classe e elegância de Raí, nem a técnica, a sorte e o drible desconcertante de Muller, a raça de Ronaldão, o vigor de Cafú e a velocidade de Palhinha. Isso não importou, o time era o mesmo, era o São Paulo, e por isso estávamos com o de melhor, com um dos maiores goleiros brasileiros, que além de fazer gols, fez defesas espetaculares, com um gigante uruguaio chamado Diego Lugano, que comandou a defesa são-paulina, com Mineiro, pequeno, mas uma verdadeira muralha no meio de campo e com calma de artilheiro na hora decisiva, com Amoroso que mostrou porque é craque consagrado e Cicinho porque vai à Copa do Mundo.
1 gol só e mais nada. A invencibilidade de 11 jogos e nenhum gol sofrido terminou, dando espaço para a duradoura alegria de ser tri-campeão do mundo. Somos o único no Brasil, somos poucos no Mundo. Somos tricolores de coração. E para os ingleses e Gerard, comemoramos, eu e meus amigos, ouvindo os inesquecíveis Beatles:
"Help, I need somebody,
Help, not just anybody,
Help, you know I need someone, help!"

segunda-feira, dezembro 12, 2005

À Sra. Diretora

Então é assim que a história termina. Se fosse realmente virar filme, eu diria que melhor, impossível. Nem o mais brilhante escritor conseguiria pensar em algo assim. Subverteu todas as regras de construção de roteiro. Não que eu conheça as regras de construção de roteiro... Bom, de qualquer forma, você quebrou muitas outras, das quais eu entendo um pouco. Elas versam sobre respeito pelo passado e pelos outros (essa você quebrou muito mais de uma vez, diga-se de passagem).
Se você fez a coisa certa? Sim, é até bem provável que sim! Ou não, por outro lado, talvez. Chega um ponto na sua intricada trama em que qualquer caminho seria errado. E quando qualquer caminho seria errado, porque não criar um novo, atropelando quem estiver no caminho? Diferentemente do que eu esperava (mais uma surpresa do seu roteiro), a revelação do segredo não gerou uma reviravolta, mas manteve as coisas como eram. Eu entendo sua decisão. Seu personagem prefere ter uma pessoa que a ama incondicionalmente (mesmo que essa pessoa seja fracassada a ponto de aceitar qualquer coisa pra ficar com você) a correr os riscos de um relacionamento normal. É como preferir guardar dinheiro na poupança que comprar ações, por mais que elas rendam mais. Eu entendo porque já vivi uma coisa parecida. Graças a Deus, no entanto, eu gosto muito de mim mesmo para precisar de amor alheio incondicional. E é por isso que se você trocasse os pretendentes de lugar, seu personagem ainda assim terminaria com o mesmo mocinho.
Você me destruiu, isso é verdade. Matou o bandido no final. Três linhas e nenhuma consideração. Nenhum olhar, nenhuma despedida, nenhuma palavra. É o anticlímax como ponto alto. Talvez seja isso que Godard quis mostrar com aquela conversa de plano e contraplano em "Nossa Música". Talvez não tenha nada a ver. Não entendi o filme mesmo.
Se você fez da forma certa? Também, com certeza! Foi inovador para um filme... Na vida real as coisas são um pouco diferentes, é verdade, mas, afinal de contas, quem se importa com verossimilhança?
E não nos esqueçamos das alterações estruturais. Você fez o que era um filme virar um monólogo! Uau, essa mudança foi radical mesmo! De repente, não mais que de repente, não existe mais nada além de você. A maneira mais fácil pra você. O jeito que você consegue. Quem vai te fazer mais feliz. E um dos personagens simplesmente some. E some mesmo, porque é assim que você quer e é você quem manda porque o filme é seu.
Sim! É isso! O filme é seu! A fita gira ao seu redor. O Mundo das Maravilhas. A história, o filme, tudo pra você! Quem nunca sonhou com isso, afinal? Muitas histórias para contar para as futuras gerações:
- Ah, meus netinhos, mas o mais legal foi quando a gente fingiu que terminou e depois voltou com um beijo à luz da Lua...
True love waits. Yeah, but true egoism forgets it all. And it's stronger, and it always wins. Há! Minha contribuição para o produto final, em forma de título! Pode colocar meu nome nos créditos.
Falemos da trilha sonora. Um dia saberemos se um uníssono que poderia ser doce no final servirá de manual para o coração partido do último romance. Faz pouco sentido assim isoladamente, mas quem viu o filme (e quem viu o filme além de nós dois?) vai entender. E com passagens ao vivo, que tal? Quase nada popular. Para ouvidos um pouco mais exigentes.
E que escolha ousada para os dias atuais, a de não deixar brechas para continuações. Pouco comercial isso. Quem sabe um dia não passe num Unibanco da vida? Da forma como o final foi arquitetado, não há como aparecer o "volume 2, o retorno" daqui a um ano. Você fez assim, preferiu assim. Talvez por achar que se deixasse brecha, não conseguiria resitir a ela e botaria a mão na câmera de novo. Talvez por achar que não suportaria levar a trama às últimas consequências. Quem sabe? Aposto que nem você. Ah, mas agora não faz mais diferença. Para a imprensa, nas entrevistas coletivas, ao apresentar o filme nos festivais, você vai ter que dizer que foi porque você quis assim. Mesmo de noite, com a cabeça no travesseiro, ou tomando banho. Uma pessoa como você, tão autora, tão comprometida com a inovação, praticamente uma Bjork da sétima arte, não pode admitir de forma alguma que perdeu o controle da obra. Nem pra si mesma.
Bom, espero que tenha gostado da crítica. Não pude evitar a parcialidade de quem está diretamente envolvido. Quero um dia também ter a chance de ficar do outro lado do estúdio, gritando "Corta" e dispensando a equipe até o próximo filme. Mas por mais que aprecie as vanguardas introduzidas pelo seu trabalho, tenho em mente uma história bem mais tradicional, daquelas com final feliz para todos. Tenho certeza que você já ouviu falar.

sábado, dezembro 10, 2005

Tomada de consciência

Tira de mim esses hormônios
E esses genes
Que eu quero viver com um labrador
Meus discoslivrosfilmesfamíliaamigos
E minhas viagens.
Viu? Não tem lugar pra você
Nem pra nenhuma outra.
Eu quero pagar pelo que consumo
Pra não ter problemas
E poder reclamar depois.
Acreditar nisso
E ser feliz assim.
Porque assim
Desse jeito assim
Eu já tentei
E tentei, tentei, tentei
Mas nunca sobra nada no fim.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Publicitário ou escritor

Em vistas de Zé Dirceu, ter cassado o seu mandato político, um velho escritor resolve adiantar sua sentença, desferindo duas bengaladas certeiras em sua cabeça. Não sei qual era a sua verdadeira intenção, se era do PSDB, se foi por convicção política, se era parente de Roberto Jefferson ou somente era lobby para vender livros. Sei que o marketing foi bom, Yves Hublet, 67 anos, escritor de "A Grande Guerra da Dona Baleia", "Artes e Manhas do Mico-Leão Dourado", "Planeta Água e, acredito eu, poucos livros vendidos e conhecidos até agora, se souber aproveitar seus 15 minutos de fama, quem sabe não estaremos diante do futuro Nobel da literatura infantil.