Crítica: "Mar Adentro"
Esta é a história real de Ramón Sanpedro, paralítico do pescoço para baixo desde jovem. Melhor filme estrangeiro de 2004 para a Academia, traz consigo uma atuação excelente do ator principal, ótima direção e um trabalho de maquiagem surpreendente.
Ramón, na época em que se passa o filme, já tem meio século de vida e convive com a paralisia há mais de 30. Preso numa cama, incapaz de mover qualquer parte do corpo além da cabeça, ele é uma mistura de amargura, resignação e sábio da montanha. Tem certeza de que deseja morrer, mas não se mata por absoluta incapacidade. Seus familiares e amigos também não o podem ajudar, pois a prática da eutanásia é proibida na Espanha, onde vivem, assim como na maior parte do mundo fora da Holanda.
A família de Ramón, que cuida dele com total amor, é uma história à parte dentro do filme. Dividida na opinião sobre sua resolução, a família parece ser o único ponto de conflito em toda a história. O irmão mais velho é o único que se posiciona contra Ramón e, provavelmente de forma intencional, é pintado como o mais ignorante da casa. O modo como o protagonista destrói seus fracos argumentos ("nós cuidamos de você esse tempo todo só para você se matar no final?") chega a dar pena. Da mesma forma idiotizada é tratado o único outro ponto de discordância, representado pela igreja na figura de um padre também paralítico. Perde-se, assim, uma ótima oportunidade de discussão, o que é uma pena.
Destaca-se na trama a aura magnética de Ramón, o que resulta num elevado número de personagens importantes, todos reunidos em torno dele. Além dos familiares, há a advogada que, contratada para defender sua causa, acaba mais ligada a ele do que seria de se supor e uma amiga-admiradora extremamente irritante.
A câmera, totalmente fechada no protagonista nas cenas em que este está sobre a cama, discutindo eutanásia com quem quer que seja, abre-se em vôo nos momentos em que este imagina-se revisitando o mar que tanto amava e que, de certa forma, lhe tirou a vida. Recurso usado mais de uma vez, mas, de forma alguma, cansativo ou inoportuno.
Maravilhosas, também, são a maquiagem e a atuação de Javier Bardem. Ator já bastante rodado, sua presença cresce na tela de maneira impressionante, seja pelo olhar (perfeito, indescritível), seja pela forma calma e firme de falar, seja pela simples e poderosa imobilidade. Prêmio de melhor ator em Veneza e no Globo de Ouro. E, não fosse pelas cenas em flashback, seria impossível afirmar que a pessoa sobre a cama, tem, na verdade, pouco mais de 35 anos. Trabalho de maquiagem reconhecido, aliás, com uma indicação ao Oscar.
Diferentemente do que se poderia, de forma fácil, afirmar, "Mar Adentro" não é uma discussão sobre eutanásia. É um filme sobre eutanásia com uma posição clara em relação ao tema e que não dá voz às outras visões possíveis. Acredito que seja possível sair do cinema com uma sensação de opinião formada sobre o assunto, resultado de uma suposta conclusão a que chega o filme. No entanto, o que o diretor chileno Alejandro Almenábar faz é expor o seu ponto de vista do início ao fim. Não que isso seja um ponto fraco do filme. Nem um forte. Mas simplesmente não se pode chegar a conclusões sem discussões.
Ramón, na época em que se passa o filme, já tem meio século de vida e convive com a paralisia há mais de 30. Preso numa cama, incapaz de mover qualquer parte do corpo além da cabeça, ele é uma mistura de amargura, resignação e sábio da montanha. Tem certeza de que deseja morrer, mas não se mata por absoluta incapacidade. Seus familiares e amigos também não o podem ajudar, pois a prática da eutanásia é proibida na Espanha, onde vivem, assim como na maior parte do mundo fora da Holanda.
A família de Ramón, que cuida dele com total amor, é uma história à parte dentro do filme. Dividida na opinião sobre sua resolução, a família parece ser o único ponto de conflito em toda a história. O irmão mais velho é o único que se posiciona contra Ramón e, provavelmente de forma intencional, é pintado como o mais ignorante da casa. O modo como o protagonista destrói seus fracos argumentos ("nós cuidamos de você esse tempo todo só para você se matar no final?") chega a dar pena. Da mesma forma idiotizada é tratado o único outro ponto de discordância, representado pela igreja na figura de um padre também paralítico. Perde-se, assim, uma ótima oportunidade de discussão, o que é uma pena.
Destaca-se na trama a aura magnética de Ramón, o que resulta num elevado número de personagens importantes, todos reunidos em torno dele. Além dos familiares, há a advogada que, contratada para defender sua causa, acaba mais ligada a ele do que seria de se supor e uma amiga-admiradora extremamente irritante.
A câmera, totalmente fechada no protagonista nas cenas em que este está sobre a cama, discutindo eutanásia com quem quer que seja, abre-se em vôo nos momentos em que este imagina-se revisitando o mar que tanto amava e que, de certa forma, lhe tirou a vida. Recurso usado mais de uma vez, mas, de forma alguma, cansativo ou inoportuno.
Maravilhosas, também, são a maquiagem e a atuação de Javier Bardem. Ator já bastante rodado, sua presença cresce na tela de maneira impressionante, seja pelo olhar (perfeito, indescritível), seja pela forma calma e firme de falar, seja pela simples e poderosa imobilidade. Prêmio de melhor ator em Veneza e no Globo de Ouro. E, não fosse pelas cenas em flashback, seria impossível afirmar que a pessoa sobre a cama, tem, na verdade, pouco mais de 35 anos. Trabalho de maquiagem reconhecido, aliás, com uma indicação ao Oscar.
Diferentemente do que se poderia, de forma fácil, afirmar, "Mar Adentro" não é uma discussão sobre eutanásia. É um filme sobre eutanásia com uma posição clara em relação ao tema e que não dá voz às outras visões possíveis. Acredito que seja possível sair do cinema com uma sensação de opinião formada sobre o assunto, resultado de uma suposta conclusão a que chega o filme. No entanto, o que o diretor chileno Alejandro Almenábar faz é expor o seu ponto de vista do início ao fim. Não que isso seja um ponto fraco do filme. Nem um forte. Mas simplesmente não se pode chegar a conclusões sem discussões.
Filme visto no Belas Artes, Belo Horizonte, a 1 de Março de 2005
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