Crítica: "Machuca"
Gonzalo Infante estuda num colégio comandado por um padre aparentemente inglês e de bom coração. A instituição, frequentada por garotos de classe alta, como Gonzalo, procurando promover a integração dos alunos com crianças de castas diferentes, oferece algumas bolsas de estudo para alunos carentes. É por meio delas que ingressa Pedro Machuca, morador dos imundos subúrbios de Santiago.
Inicialmente prevenido de qualquer contato com os colegas por uma casca de auto-proteção, Machuca está sempre de cara fechada. No entanto, faz amizade com Gonzalo depois deste lhe dar cola numa prova. O mesmo não acontece com a turma nariz-empinado do colégio, liderada por um menino-loirinho-com-cara-de-cínico. Bom, esta parte da história já é conhecida de outros carnavais. O que importa aqui é a outra.
A amizade entre os dois garotos começa a ficar mais forte quando Gonzalo acompanha o amigo, seu tio e sua prima mais velha, Silvana, numa passeata pró-Allende e numa pró-militares. A família vende bandeirinhas, ora do Chile, ora do Partido Comunista, na, provavelmente, melhor passagem do filme.
Santiago, fervilhando às vésperas do golpe militar da década de 70, é um dos destaques do filme. A reconstituição das passeatas dos dois lados são excelentes (muito embora não tenha base para afirmar se são realistas). O pano de fundo histórico, fundamental para o desenvolvimento da trama, fornece os melhores momentos. Ver o pai de Gonzalo escondido por motivos políticos, numa cena tão familiar para os brasileiros, acontecendo do outro lado dos Andes é um tanto quanto diferente e, sem dúvidas, muito interessante. Sempre bom entrar em contato com a história dos vizinhos mais latinos, quase desconhecida por nós.
À medida que os laços entre os garotos se estreitam, passam a frequentar a casa um do outro e a fazer as descobertas próprias dessa fase da vida juntos. Tomam o primeiro gole de álcool na casa de Gonzalo, numa festa dada pela irmã vadia deste. Dão os primeiros beijos também à mesma época, na mesma menina (Silvana, a prima mais velha de Machuca), do mesmo jeito (com o auxílio de uma lata de leite condensado, artigo de luxo na época).
Mas o foco mesmo são as diferenças. É notório o desconforto de ambos os lados quando em contato com a realidade alheia. Silvana seria o braço armado do descontentamento. Com a raiva típica dos menos favorecidos, a garota até faz uma força para aceitar o convívio com Gonzalo, mas acaba, quase sempre, se rendendo à rebeldia ressentida por não ter as mesmas chances. Ressentimento difarçado de orgulho, como se fosse melhor que o amigo simplesmente por ter que suportar mais dificuldades que este.
O saldo final, por mais que hajam momentos de sincera amizade, é de impossibilidade de convivência. As diferenças falam mais alto. Triste, mas muitas vezes, verdadeiro.
Inicialmente prevenido de qualquer contato com os colegas por uma casca de auto-proteção, Machuca está sempre de cara fechada. No entanto, faz amizade com Gonzalo depois deste lhe dar cola numa prova. O mesmo não acontece com a turma nariz-empinado do colégio, liderada por um menino-loirinho-com-cara-de-cínico. Bom, esta parte da história já é conhecida de outros carnavais. O que importa aqui é a outra.
A amizade entre os dois garotos começa a ficar mais forte quando Gonzalo acompanha o amigo, seu tio e sua prima mais velha, Silvana, numa passeata pró-Allende e numa pró-militares. A família vende bandeirinhas, ora do Chile, ora do Partido Comunista, na, provavelmente, melhor passagem do filme.
Santiago, fervilhando às vésperas do golpe militar da década de 70, é um dos destaques do filme. A reconstituição das passeatas dos dois lados são excelentes (muito embora não tenha base para afirmar se são realistas). O pano de fundo histórico, fundamental para o desenvolvimento da trama, fornece os melhores momentos. Ver o pai de Gonzalo escondido por motivos políticos, numa cena tão familiar para os brasileiros, acontecendo do outro lado dos Andes é um tanto quanto diferente e, sem dúvidas, muito interessante. Sempre bom entrar em contato com a história dos vizinhos mais latinos, quase desconhecida por nós.
À medida que os laços entre os garotos se estreitam, passam a frequentar a casa um do outro e a fazer as descobertas próprias dessa fase da vida juntos. Tomam o primeiro gole de álcool na casa de Gonzalo, numa festa dada pela irmã vadia deste. Dão os primeiros beijos também à mesma época, na mesma menina (Silvana, a prima mais velha de Machuca), do mesmo jeito (com o auxílio de uma lata de leite condensado, artigo de luxo na época).
Mas o foco mesmo são as diferenças. É notório o desconforto de ambos os lados quando em contato com a realidade alheia. Silvana seria o braço armado do descontentamento. Com a raiva típica dos menos favorecidos, a garota até faz uma força para aceitar o convívio com Gonzalo, mas acaba, quase sempre, se rendendo à rebeldia ressentida por não ter as mesmas chances. Ressentimento difarçado de orgulho, como se fosse melhor que o amigo simplesmente por ter que suportar mais dificuldades que este.
O saldo final, por mais que hajam momentos de sincera amizade, é de impossibilidade de convivência. As diferenças falam mais alto. Triste, mas muitas vezes, verdadeiro.
Filme visto no Belas Artes, Belo Horizonte, a 11 de Março de 2005
1 Comentários:
Análise mediana. Contém toques de reacionismo.
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