ecce blog

Odiamos blogs. Quer dizer, odiamos o uso idiota que as pessoas fazem dos blogs. Também odiamos o uso idiota que as pessoas fazem dos fotologs. Quer dizer, odiamos fotologs. Mas adoramos rir deles! O "ecce blog" foi criado como uma forma de dar vazão a nossos impulsos criativos. Não há tema fixo. Há, sim, um tema a se evitar fixo. Não faremos disso um diário virtual. Sim, besteira é permitida. Falar mal dos outros também. Vamos ver até onde vai...

sábado, abril 09, 2005

Crítica: "Contra a Parede"

Cahit é um catador de garrafas numa boate alemã. Logo no início do filme, tenta se matar batendo o carro num muro. Na clínica para recuperação à qual é forçado a frequentar devido à tentativa de suicídio, conhece Sibel. O primeiro contato entre os dois é um pedido de casamento, feito pela moça. Mais tarde, descobre-se que Sibel, assim como Cahit, é de origem turca e quer casar com este para fugir da repressão dos pais. O casamento seria apenas uma fachada. Na verdade, o que a jovem quer, é "não ter que transar com apenas um homem". Como Cahit reluta em sequer conhecê-la, Sibel apela para a chantagem. Numa cena muito, muito forte, após ouvir mais uma recusa a sua proposta, corta os pulsos com caco de vidro no meio de um restaurante. Tudo filmado, tudo mostrado. Feito para incomodar. E incomoda.
Após conseguir seu intento, o sonho de Sibel torna-se realidade. Passa a morar com o marido no apartamento deste, o perfeito retrato do caos da vida do dono. Como é natural das mulheres, a nova moradora faz uma completa mudança estética na casa. E começa a transar com todos os homens que encontra pela frente. Enquanto isso, como já se pode imaginar, Cahit começa a gostar da esposa e a se incomodar com sua promiscuidade. Os dois vivem esse desencontro até transarem. Quando tudo parece se ajustar, Cahit mata um homem por ciúmes e vai preso. É quando começa o núcleo Istambul do filme, com Sibel passando a morar com uma prima turca, enquanto espera o amado.
O que destaca "Contra a Parede"dos dramalhões habituais é que aqui, diferentemente da maioria dos filmes do gênero, não há espaço para que se sinta pena dos personagens. Eles não são vítimas. Tanto Cahit quanto Sibel apanham, e muito, da vida, mas cada golpe recebido é um revide e não um ataque do destino ou do acaso. Os dois são responsáveis por cada sofrimento por que passam, por cada surra que levam. Numa das cenas mais fortes do filme, registrada com proximidade e realismo, Sibel é espancada e esfaqueada por um bando de vagabundos em Istambul por tê-los insultado e (cúmulo das ofensas para os muçulmanos) a suas famílias. Um crime, uma brutalidade, violência sem igual. Tudo, menos sem motivo. Semelhanças, nesse sentido, com o magistral "Menina de Ouro".
A atriz principal, a alemã de vinte e poucos anos Sibel Kekilli é, possivelmente, a maior atração para o público masculino. Linda, com nariz de turca e tudo. Indescritivelmente gostosa. Muito, mas muito boa mesmo. Deixa para trás muita brasileira orgulhosa da bunda que tem. Após o lançamento do filme, descobriu-se que a atriz havia trabalhado em filmes pornô, sob o pseudônimo de Dilara. Infelizmente, ainda não consegui assistir a estes.
O fato do filme se passar em Hamburgo é apenas um detalhe, mas valioso. O próprio diretor Faith Akin é nascido na cidade, o que empresta um ar maior de sinceridade à trama. Além disso, o simples fato de não ser rodado em Berlim, como quase todos os filmes alemães que chegam até aqui, já foge um pouco do lugar comum. Não que a mudança seja perceptível. Eu, pelo menos, não teria percebido caso não me fosse dito. Além disso, a semelhança com os espaços urbanos brasileiros é grande. Nada com aquele ar super-limpo de Nova York, por exemplo. Os prédios são meio decadentes, os bares, todos sujos e o apartamento de Cahit, uma extensão amplificada disso.
Para mim um dos melhores filmes do ano até aqui, "Contra a Parede" é um filme honesto, adulto e bem-feito. Boas atuações, uma boa história, um bom final, uma trilha excelente. E uma abordagem não tão habitual de uma questão bastante em voga: o desconforto com as raízes e a vida um tanto quanto marginalizada dos imigrantes longe da pátria. Temas com certeza bastante familiares para Akin: o diretor é alemão filho de turcos, assim como os protagonistas.


Filme visto no Belas Artes, Belo Horizonte, a 1 de Abril de 2005

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